Escola Sakya  de Budismo Vajrayana

Monastério Sakya, Tibet Em 1073, o lama tibetano Khön Könchog Gyelpo (tib. Khon dKon mchog rGyal po, 1034-1102) fundou o monastério Sakya, em uma região Tibet conhecida por sua Terra de cor Cinza (tib. Sakya / Sa skya). O monastério, então, tornou-se centro da escola homônima Sakya(-pa), com patronagem da tradicional família Khön, antes associada à escola Nyingma. Könchog recebeu do tibetano Drogmi (tib. 'Brog mi, 992-1102) os ensinamentos da linhagem de um mestre tântrico indiano chamado Virupa.

[Virupa] era originalmente um grande estudioso, um pandita, mas depois se tornou um praticante tântrico. Por anos e anos, ele aplicou o método de transformação de Hevajra e, em particular, a recitação do mantra de Damema [sânsc. Nairatmya, tib. bDag med ma], a consorte de Hevajra. A história diz que, certo dia, enquanto ele estava em um estado contemplativo de total claridade, ele subitamente se levantou e jogou seu mala [rosário], que ele geralmente segurava para contar os mantras, na latrina. Então, ele voltou à sala, jogou no chão as oferendas de mandala que ele havia preparado para a prática e foi embora, sem nunca mais voltar. Virupa tinha alcançado a iluminação, mas todos pensaram que ele tinha ficado louco.

(Chögyal Namkhai Norbu, Dzogchen)

Virupa tornou-se um mestre siddha [um adepto tântrico] e tinha controle sobre a vida e a morte. Ele podia criar aparências à vontade e as limitações das pessoas comuns não se aplicavam a ele. [...] Durante suas viagens, ele continuou a impressionar as pessoas com mostras surpreendentes de seu poder yógico, e viajou por toda a Índia usando sus habilidades para converter os seres sencientes ao buddhismo. Diz-se que ele viveu 700 anos, durante os quais ele fez incontáveis atos de poder e finalmente atingiu a libertação completa e subiu ao paraíso das dakinis.

(John Powers, Introduction to Tibetan Buddhism)

Drogmi recebeu do mestre indiano Gayadhara os principais ensinamentos de Virupa, chamados de Caminho e Fruto (tib. Lamdre / Lam bras). Estes ensinamentos foram passados para Setön Kunrig, que por sua vez transmitiu-os para Shangtön Chobar.

O Lamdre tem como base os Versos Vajra (sânsc. Vajra Gatha, tib. Dorje Ts'hikang / rDo rje Tshig rkang) de Virupa e o Hevajra Tantra (tib. Kyedorje Gyü / Kye rdo rje rgyud).

No Lamdre, afirma-se que a mente possui três características principais:

Hevajra e sua consorte, Nairatmya

1.A mente é luz clara;

2.A mente é vazia;

3.A mente é a união inseparável da luz clara e do vazio.

A essência do corpo, da fala e da mente de todos os tathagatas [buddhas] abençoados permanece no ventre da rainha-vajra. [...] Não há meditação nem um meditador. Não há divindade nem um mantra. Na natureza que é vazia de elaboração conceitual, as divindades e mantras estão perfeitamente presentes: os seres [são] Vairochana, Akshobhya, Amoghasiddhi, Ratnasambhava e Amitabha.

(Hevajra Tantra)

Fora da mente preciosa, não há buddhas nem seres sencientes. Os lugares e coisas [das quais a mente é] consciente não tema menor existência externa. [...] A natureza dos objetos e faculdades não existe fora da mente, e até mesmo o que aparece distintamente como forma e assim por diante é unicamente a exibição da natureza da mente.

(Vajra-panjara Tantra)

Neste sistema, o caminho inclui a causa pois, nele, purificam-se as negatividades que impedem a realização da iluminação. O caminho também inclui o resultado, pois este é um aspecto transformado da causa. [...] Um princípio importante dos ensinamentos Lamdre é a similaridade dos aspectos da aparência tríplice (ou visão tríplice, sânsc. tryavabhasa, tib. nangsum / snang gsum) e do continuum tríplice (sânsc. tritantra, tib. gyüsum / rgyud gsum). A aparência tríplice consiste de: 1. a aparência do fenômeno como sendo impuro; 2. a aparência da existência na meditação; 3. a aparência pura. Os textos Lamdre indicam que estas três são, fundamentalmente, a mesma aparência, e que a única diferença está no modo como são percebidas. O continuum tríplice é constituído pela base (sânsc. adhara, tib. shi / gzhi), caminho (sânsc. marga, tib. lam / lam) e fruto (sânsc. phala, tib. drepu / 'bras bu). Assim como as três partes da aparência tríplice, os constituintes do continuum tríplice, não são diferenciáveis. [...]

Não há diferença real entre a mente de um buddha, de um principiante no caminho, de um adepto espiritual avançado ou até mesmo de um verme sobre um monte de estrume. A única diferença está nas suas respectivas percepções da realidade. Um buddha percebe a realidade na maneira em que ela está livre de máculas, enquanto as percepções de outros seres são maculadas por variados graus de aflições mentais. Removendo as aflições adventícias, o buddha causal que, previamente, não era reconhecido devido ao obscurecimento adventício torna-se um buddha real, que difere do buddha causal apenas nos termos de percepção da realidade.

(John Powers, Introduction to Tibetan Buddhism)

[O] significado do tantra adquire maior profundidade no Anutta-yoga-tantra, no qual é entendido através dos três ramos conhecidos como os "três tantras". Eles são o tantra da causa (a base), o tantra do método (o caminho) e o tantra do resultado (o fruto). Em última instância, todos os três níveis do tantra originam-se na mente fundamental inata de clara luz. Isso significa que, tendo uma compreensão correta, podemos avaliar a apresentação única da tradição Sakya quando ela fala do tantra da causa (chamado a base de tudo ou base fundamental) referindo-se à mandala residência e às divindades residentes. Todos eles originam-se efetivamente dessa base fundamental. De acordo com essa apresentação, nessa base fundamental (isto é, no interior dessa faculdade básica que todos possuímos), todos os fenômenos da base (o nível comum) estão presentes sob a forma de suas características; todos os fenômenos do caminho estão presentes sob a forma de qualidades iluminadas; e todos os fenômenos do estado búddhico resultante estão presentes sob a forma de potencial.

(Dalai Lama, The World of Tibetan Buddhism)

[Segundo os ensinamentos do Lamdre,] existem quatro fatores válidos de conhecimento: os textos sagrados válidos, os tratados ou comentários válidos, o mestre válido e a experiência válida. Quanto a sua origem, os textos sagrados válidos foram ensinados primeiro e os comentários válidos foram elaborados a partir deles mais tarde. Depois, com base no estudo, surgiram os mestre válidos, que se tornaram luminares desses comentários. Isso fez com que passassem por experiências válidas. Entretanto, sob a perspectiva do desenvolvimento de nossa própria convicção pessoal, sugere-se uma inversão dessa ordem.

(Dalai Lama, Transforming the Mind)

Sachen Künga Nyingpo

Sachen Künga Nyingpo (tib. Sa chen Kun dga' sNying po, 1092-1158), sistematizou os ensinamentos da escola após ter uma visão do bodhisattva Manjushri. Sachen era um profundo conhecedor do buddhismo e desenvolveu um sistema de lojong (treino mental) semelhante ao da escola Kadam.

Seus filhos, Lopön Sönam Tsemo (tib. sLob dpon bSod nams rTse mo, 1141-1182) e Jetsün Dragpa Gyeltsen (tib. rJe btsun Grags pa rGyal mtshan, 1147-1216), continuaram a tradição do pai. Sönam sistematizou os ensinamentos tântricos e Dragpa escreveu sobre a história do buddhismo no Tibet e sobre medicina, além de ter sido um grande meditador.

Künga Gyeltsen Pel Sangpo (tib. Kun dga' rGyal mtshan dPal bZang po, 1182-1251), mais conhecido como Sakya Pandita, foi um dos lamas mais importantes desta escola. Desde pequeno, Sakya Pandita apresentou um extraordinário conhecimento dos ensinamentos buddhistas, tornando-se mestre em todos os campos de conhecimento e vencendo diversos debates filosóficos. Godan Khan, neto de Gengis Khan, convidou-o a visitar a Mongólia e Sakya Pandita tornou-se rei do Tibet unificado em 1261.

Atualmente, a escola Sakya é subdividida em duas sub-escolas Ngorpa e Tarpa e é vista como a linhagem mais esotérica do buddhismo tibetano. Seu líder, S.S. Sakya Trizin Ngawang Künga (tib. Sa skya Khri 'dzin Ngag dband Kun dga'), considerado uma emanação do bodhisattva Manjushri, vive no exílio em Dehradun, na Índia.

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