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A Escola Jôdo Shin A escola Shin, ou Verdadeira Escola da Terra
Pura (jap. Jôdo Shinshû), surgiu no Japão a partir dos
ensinamentos de Shinran Shônin (ou Kenshin Daishi, 1173-1262), embora ele
não tivesse fundado oficialmente uma escola. Shinran tinha uma grande admiração pelo seu
mestre Hônen e usava a expressão japonesa Shin — verdadeira, correta,
autêntica — para designar os ensinamentos recebidos de Hônen através de uma
linhagem de patriarcas que vinha desde a Índia, passando pela China e
chegando ao Japão sem nunca ter se quebrado. Como houve uma época em que a doutrina da
recitação do nome de Amitabha foi proibida por um édito imperial, e como
Hônen e Shinran foram exilados em províncias distantes, as escolas Jôdo e
Jôdo Shin acabaram por se formar e se desenvolver de maneira independente. No Ocidente, Daisetz Suzuki será provavelmente
sempre lembrado como o homem que trouxe o Zen par aos Estados Unidos quase
sozinho, pois esse é o lado que ele mostra nos seus escritos em inglês.
Entrementes, porém, em livros para o seu próprio povo (os quais não foram
traduzidos para o inglês senão depois da sua morte) ele mergulhava cada vez
mais fundo nos escritos da escola Terra Pura para demonstrar a unidade
essencial do buddhismo Mahayana como um todo. Mas para o Ocidente que tinha
sido exposto quase totalmente aos escritos sobre o Zen de Suzuki seria
surpreendente descobri-lo escrevendo que " de todos os desenvolvimentos que
o buddhismo Mahayana realizou no Oriente, o mais notável é, de acordo com o
meu julgamento, o ensinamento Shin da escola da Terra Pura. (Huston Smith e Philip
Novak, Budismo) Shinran nasceu no clã Fujiwara, na vila de Hino a
sudeste de Kyôtô, recebendo o nome Matsuwaka-maru. A época em que Shinran
viveu, particularmente da infância ate a adolescência, foi um período
conturbado da história do Japão. Os clãs guerreiros haviam se insurgido
contra o governo reinante da nobreza, liderado pelo clã Fujiwara. Além
disso, terremotos, fome e doenças assolavam a capital. Seu pai, um aristocrata menor chamado Hino
Arinori, era um membro da família do clã dos Fujiwara. Sua mãe provavelmente
faleceu quando Shinran estava com oito anos de idade. Aos nove anos, foi
levado por seu tio Noritsuna ao templo Shoren-in em Higashiyama, Kyôtô,
tornando-se discípulo do monge Jien Sojo e recebendo o nome Hannen. Quando tinha nove anos, o futuro mestre Shinran
já tinha decidido que queria ser monge e pediu ao mestre Zen Jichin que o
tonsurasse. Mestre Jichin então perguntou: "Você é tão jovem, por que quer
ser monge?" Shinran respondeu: "Apesar de ter apenas nove anos, meus pais já
faleceram. Não compreendo porque as pessoas têm de morrer. Por que tenho de
me separar de meus pais? Quero ser monge para encontrar as respostas a essas
perguntas." Impressionado, mestre Jichin disse: "Muito bem!
Já conheço seus motivos, posso aceitá-lo como discípulo. Mas agora está
ficando tarde, espere até amanhã de manhã para a tonsura." Shinran
discordou: "Mestre! Mesmo com sua promessa de me tonsurar amanhã de manhã,
não posso garantir que minha determinação vá durar até lá. Além do mais, o
senhor já está tão idoso, não pode me garantir que estará vivo amanhã." Mestre Jichin ficou satisfeito e disse: "Você tem
razão. Vamos proceder à tonsura imediatamente." (Hsing Yün, Contos Ch'an) Partiu então para o templo Mudô-ji-dani Daijô-in
no monte Hiei, sede da escola Tendai. Shinran era um doso, um monge
subalterno que conduzia cerimônias nos vários templos do Monte Hiei. Ele se
dedicou aos mil dias de auto-disciplina (jap. sennichi-gyô). No
templo Saitô Seikô-in, dedicou-se ao serviço do Buddha Amitabha como membro
do Jôgyô-dô. Na visitação de cem dias ao templo Rokkaku-dô,
ele rezou ao príncipe regente japonês Shôtoku (considerado uma emanação do
bodhisattva Avalokiteshvara), pedindo que lhe fosse revelado o caminho a ser
seguido. Em 1201, na madrugada no nonagésimo quinto dia de seu retiro, seu
amigo Seikaku levou-o a Hônen Shônin, que se tornou seu mestre ao
encontrá-lo em Yoshimizu, Kyôtô. Mudou seu nome para Shakku e depois para
Zenshin. Ele abandonou o celibato monástico e se casou com
Eshinni, filha de um samurai de alto escalão. Shinran definia-se como "nem
monge nem leigo". Mesmo deixando votos monásticos tradicionais como o
celibato e o vegetarianismo, Shinran demonstrou a legitimidade da prática
do buddhismo no lar (jap. zaikeojô). Quando o ensinamento do nenbutsu foi proibido,
Hônen Shônin foi exilado para a ilha de Shikoku e Shinran foi exilado para
Kokubu, em Echigo (atual Niigata). Foi perdoado em 1211, e ao saber da morte
de Hônen, Shiran decidiu permanecer lá até 1214, prosseguindo depois pra
Hitachi (atual Ibaragi), onde ensinou a recitação do nome do Buddha
Amitabha. Dez anos depois, escreveu seu Ensinamento, Prática, Fé e
Realização (jap. Kyô Gyô Shin Shô) em seis volumes. Nesta obra,
ele cita sutras, tratados e comentários, apresentando suas principais
idéias. Depois de vinte anos, retornou a Kyôtô e
continuou sua obra literária até o final de sua vida. Escreveu outros
trabalhos e coleções de hinos, como o Shôzômatsu Wasan. De acordo com
o seu Hino da Fé Verdadeira no Nenbutsu (jap. Shôshin Nenbutsu Ge),
é possível alcançar a iluminação através da repetição do nome de Amitabha, e
a fé na recitação do nenbutsu garante o renascimento na Terra Pura. Segundo
Shinran, não há mente confiante separada da recitação do nome de Amitabha. Existe um meio fácil de nascer na Terra Pura. É
só se concentrar na recitação do nenbutsu, diz Hônen. Shinran encontrou
refúgio no ensinamento de Hônen, mas levou-o a um nível ainda mais profundo.
É fácil, ensinou Shinran, simplesmente recitar o nenbutsu, mas é muito mais
difícil encontrar refúgio no buddha, honestamente e sem restrições, como uma
criança faria. "Sem restrições" quer dizer descartar toas as nossas noções e
conhecimentos preconcebidos. Devemos nos transformar em crianças inocentes,
e isso é uma coisa difícil de fazer. Além do mais, encontrar refúgio não é algo que se
decida fazer conscientemente e que se alcance com um pouco de esforço. Pelo
contrário, é-se naturalmente atraído para o refúgio pelo próprio poder
magnânimo. A frase "não há nada que eu possa fazer" é, creio, uma perfeita
expressão disso. Recitar o nenbutsu, "Namu Amida Butsu", não é curvar-se
diante do Buddha e jurar a fé que nele se tem. Não é um esforço consciente
de abandonar seu eu anterior. Não, é-se espontaneamente atraído para o ponto
onde não se pode deixar de fazer isso. [...] O pensamento de Shinran chegou ao ponto de ele
declarar que "o Buddha supremo não tem forma". O Buddha Amitabha, em última
análise, é "um meio de expressar Aquilo que É". Um Buddha em qualquer forma,
seja uma estátua ou uma pintura, é uma representação narrativa, apenas um
meio de expressão visual. Por trás da imagem, encontra-se jinen hoji,
a infinita força vital do universo e a luz da verdade que ilumina toda a
existência. [...] A Verdadeira Escola da Terra Pura que Shinran
fundou baseia-se em seu ensinamento do Outro Poder; ela não nos diz para
tentarmos nos livrar de nossas obstruções e desejos. Isso a distingue das
outras escolas do buddhismo japonês. Na verdade, é diferente do buddhismo da
Índia e da China também. (Hiroyuki Itsuki, Tariki) O ensinamento central de Shinran é a mente
confiante (jap. shinjin), a entrega ao voto original de Amitabha
e a negação do próprio poder. As práticas do próprio poder incluem todas as
práticas diferentes da recitação do nome de Amitabha e até mesmo esta
recitação, se for feita sem a entrega total ao voto original de Amitabha.
Segundo Shinran, não é possível salvar os outros com o próprio poder; seria
necessário confiar primeiro no poder de Amitabha e atingir a iluminação na
Terra Pura. A mente confiante tem três aspectos (jap. sanshin):
a mente pura (jap. junshin), que confia sinceramente; a
mente única (jap. isshin), que confia só no Buddha Amitabha; a
mente contínua (jap, sôkushin), cuja confiança é ininterrupta,
mesmo quando outros pensamentos surgem. Devido à importância do Buddha Amitabha no
buddhismo Terra Pura, muita gente parece achar que se trata de uma religião
que adora o Buddha como um deus e que o Buddha é uma espécie de
representação visual dele — uma imagem, uma pintura, algo modelado na figura
de um ser humano. Mas, se olharmos para a verdadeira essência dos
ensinamentos de Shinran, veremos que a imagem do Buddha é meramente um meio
de assistir a fé. À parte os poucos escolhidos que se envolvem numa
prática religiosa especial, ou encontram a fé após sofrer algum tipo de
despertar espiritual, é difícil para a maioria das pessoas apreender a
realidade de seres invisíveis como deuses ou buddhas. É difícil para nós
assimilá-los no nível emocional. E então, estátuas e pinturas dos buddhas
tornaram-se objetos de veneração. Contaram-se todos os tipos de histórias
buddhistas. Mas nada disse expressa necessariamente a essência da religião.
A estátua ou pintura do Buddha, pousada com dignidade no templo, é uma nau
para levar pessoas sofredoras à distante margem da paz e da tranqüilidade,
uma lanterna para levar luz a um lugar escuro. Tais ícones são encarados
como seres benéficos, estendendo a mão par anos, confusos, perdidos,
tomando-nos pelas mãos e levando-nos na direção certa. É por isso que unimos
nossas mãos em prece, curvamos a cabeça e agradecemos diante dessas imagens. Mas esse não é o nosso objetivo. A verdadeira
realidade concebida por Shinran, o lugar para onde todos serão finalmente
conduzidos, era a Terra Pura, acima de todas as imagens. A Verdadeira Escola
da Terra Pura, fundada por Shinran e depois popularizada por Rennyo, chamava
a esse objeto primário da fé e da veneração do myôgo (nome). Esse
nome era constituído de seis, oito ou às vezes dez caracteres chineses
escritos num pedaço de papel, e este era venerado. Ao maioria desses myogo
consistia dos caracteres Namu Amida Butsu ou "Encontro refúgio no
Buddha Amitabha". O que significa venerar essas palavras escritas,
e que relação elas têm com nosso próprio sofrimento? O Buddha de Shinran era
o conceito Namu Amida Butsu, e essa idéia não é como um Buddha
concreto que pode ser visto com os olhos. A Terra Pura é, como a própria fé,
invisível. Um mundo em uma escala infinita. É tempo eterno — algo que
transcendeu todos os conceitos de tempo. É isso que Shinran expressava com
as palavras Amida Butsu. Namu significa "refugiar-se em". Refugiar-se
em alguma coisa quer dizer ajoelhar-se diante dela, abaixar a cabeça,
entregar-se a ela completamente e fazer o voto de unir-se a ela. Rennyo
desenvolveu o nenbutsu de Shinran, de refugiar-se no Buddha, em um nenbutsu
que era uma expressão de alegria e gratidão por encontrar o Buddha, e foi
essa forma que se popularizou. [...] Em vez de recitar Namu Amida Butsu ou
Namo Amida Butsu, enunciando claramente cada sílaba, muitos japoneses
idosos dizem Namandabu ou até Namanda, mas estas são só
versões abreviadas da fórmula original. Recitar Namanda está de
completo acordo com a intenção de Shinran. Ele não estava dirigindo olhar a
nenhuma imagem, mas à Terra Pura, uma região invisível, infinita e
ilimitada, em oposição à esfera do pensamento racional e científico. (Hiroyuki Itsuki, Tariki) Yuienbô, discípulo de Shinran, compilou alguns de
seus ensinamentos no Tratado de Lamentação das Heresias (jap.
Tannishô), um comentário sobre as divergências quanto aos ensinamentos
dados por Shinran Shônin. A obra apresenta o voto original (jap.
hongan) de Amitabha, relacionando-o à mente confiante (jap.
shinjin) e à recitação do nome de Buddha (jap. nenbutsu),
apresentado como o caminho único e desimpedido para a iluminação. Segundo
Shinran, o nenbutsu vem do outro poder e está além do próprio poder; confiar
ou não no nenbutusu torna-se uma decisão de cada um. O Tannishô é o texto sagrado em que se registra
com exatidão o percurso da mente de Shinran Shônin, um religioso
extraordinário que durante os noventa anos de sua existência buscou somente
a verdade que perpassa a vida e a morte. A maior parte do que foi registrado
nesta obra parece referir-se ao último período da vida do Shônin, talvez
após os seus oitenta anos de idade. No cotidiano, em conversa franca e
informal com seus jovens discípulos, podemos sentir a vibração de Shinran
Shônin como pessoa. Por um lado, diante das perguntas dos discípulos vindos
de Kanto, atual região de Tôkyô para visitá-lo, ele expressa suas convicções
em um tom severo, como numa luta real; por outro lado, às vezes, qual luz da
primavera que acolhe tudo com seu calor, ele abraça a aflição dos discípulos
abrindo uma nova visão da mente. Ele também recorre a paradoxos sutis,
derrubando a estrutura ilusória do senso comum, conduzindo-os ao mundo da
verdade religiosa. Este livro revela que Shinran Shônin continua vivo no
coração das pessoas. O texto do Tannishô não menciona seu autor. Mesmo na
cópia mais antiga existente, de Rennyo Shônin (1415-1499), não há referência
ao nome do autor, que, talvez, nunca tenha sido registrado no texto. Apesar
disso, supõe-se que Yuien-bo, um discípulo direto de Shinran Shônin que
morava em Kawada, atual cidade de Mito da província de Ibaragi, na província
de Hitachi, nordeste de Tôkyô, tenha sido o autor desse texto. (Da introdução de Jitsuen Kakehashi
em Tannishô) Quando confiamos que o voto inconcebível de
Amitabha nos salva e assegura o nascimento na Terra Pura, surge em nosso
coração o desejo de recitar o nenbutsu. Nesse mesmo momento, recebemos a
dádiva de termos sido abraçados, protegidos e nunca mais abandonados.
Precisamos nos conscientizar de que o voto original de Amitabha não faz
distinção entre jovens e velhos, bons e maus. Só a mente confiante é
essencial. Isso significa que o voto tem por fim salvar aqueles a quem
afligem profundos males kármicos e intensas paixões maléficas. Assim, ao
confiarmos no voto original, não dependemos de outras práticas virtuosas
porque não há bem superior ao nenbutsu, nem precisamos temer o mal, pois não
há mal capaz de impedir o voto original de Amitabha. [...] (Tannishô) Shinran Shônin dizia: "Não existe nenhum mal
capaz de ultrapassar a promessa de Buddha [Amitabha] de salvar todos os
seres." Pensamos que se fizermos algo mau seremos punidos, ou que nossas
bênçãos dependem da quantidade de oferendas que fazemos. Mas isso são apenas
idéias mesquinhas do cérebro humano. É claro que Buddha não pode ser medido
por nossas curtas inteligências. Se fosse assim, o que seria o Buddha? (Shundo Aoyama Rôshi, Para Uma
Pessoa Bonita) No século XIII, após o falecimento de Shinran,
formou uma tradição que acabou se denominando como o Templo do Voto
Original (jap. Honganji) do Buddha Amitabha, construído
inicialmente como uma espécie de mausoléu para abrigar as cinzas de Shinran.
Seu abade era sempre um descendente direto de Shinran. A família recebeu a
designação Ôtani ou "grande vale" pelo fato de este templo estar
localizado numa região com este nome. No final do século XVI e início do
século XVII, após um período de intensas guerras internas no Japão, o Shôgun
Ieyasu Tokugawa doou terras em Kyôtô para que descendentes da família Ôtani
construíssem seus templos. Uma grande gleba de terra foi oferecida ao irmão
mais novo no lado oeste da cidade, dando origem ao Templo do Voto
Original do Oeste (jap. Nishi Honganji). Outra gleba foi oferecia
para o irmão mais velho no lado leste da cidade, originando o Templo do
Voto Original do Leste (jap. Higashi Honganji). A partir daí, os
dois templos se constituíram como ordens religiosas independentes. O Nishi Honganji deu origem à Ordem Honganji
ou Ramo Honganji (jap. Honganji-ha ou abreviadamente Honpa).
O Higashi Honganji deu origem à Ordem Ôtani ou Ramo Ôtani
(jap. Ôtani-ha ou abreviadamente Daiha). Estes dois ramos da
família de Shinran são os maiores da escola Shin. Além delas, outras oito
ordens se formaram a partir de discípulos diretos de Shinran. Atualmente, a
tradição Shin é a maior das escolas buddhistas japonesas. Ser conduzido ao nascimento na Terra Pura
significa o rompimento da pequena casca chamada "eu" que nos distingue dos
outros para sentir-se interligado a todos, em união (jap. ichinyo),
tornando-se alguém que "beneficia os seres vivos salvando-os tal como
desejamos". Por essa razão, só seremos salvos da tristeza e do vazio gerados
pelo amor finito, humano, confiando no grande caminho do voto original do
nenbutsu. Essa é "a compaixão da Terra Pura". [...] O voto original do
Buddha Amitabha nos dá o Namu Amida Butsu como a prática para o nascimento
na Terra Pura, propiciando o bem a quem não o possui e tornando-se a prática
de quem não a exerce, pra que todos os seres tornem-se um buddha, sem
discriminação. Recitar o nenbutsu confiando nesse voto não significa
recitá-lo para evitar o mal e praticar o bem, mas é simplesmente
emocionar-se e agradecer a intenção do Tathagata que nos salva, doando-nos o
nome sagrado, pleno de todas as virtudes. (Da introdução de Jitsuen Kakehashi
em Tannishô) A compaixão do caminho dos sábios [jap.
shôdômon] e a do caminho da Terra Pura [jap. jôdomon] são
diferentes. A compaixão do caminho dos sábios significa ter empatia com o
outro, sentir como seu o sofrimento alheio e velar por todos os seres vivos.
Porém, é muito difícil salvar plenamente os seres vivos da forma como o
desejamos. A compaixão do caminho da Terra Pura significa tornar-se de
imediato um buddha através da recitação do nenbutsu e, com a mente da grande
compaixão, beneficiar os seres vivos salvando-os tal como desejamos. Nesta
vida, mesmo tendo empatia e sentindo o sofrimento alheio como se fosse
nosso, é difícil salvar os seres vivos conforme desejamos, Por isso, nossa
compaixão é incompleta. Apenas a recitação do nenbutsu manifesta a mente da
grande compaixão que propicia a salvação plena. [...] Acreditamos, porque
nos foi ensinado, que seres ignorantes [jap. bonbu] de capacidade
inferior, como nós, alguns analfabetos, serão salvos se tiverem a mente
confiante. Para as pessoas de maior capacidade, este ensinamento pode
parecer desprezível, mas para nós, ele é elevado. Ainda que existissem
ensinamentos superiores, não conseguiríamos segui-los pois ultrapassariam a
nossa capacidade. O desejo fundamental dos buddhas é libertar a mim e a
vocês do samsara.[...] (Tannishô) Depois de Shinran, o principal propagador da
escola Shin foi Rennyo Kenju (1415-1499), o oitavo abade do Honganji. Rennyo
transformou o templo Honganji no centro da escola Shin e principal
instituição religiosa do Japão medieval. Devido aos ataques dos monges
guerreiros do templo Enryakuji (sede da escola Tendai), Rennyo refugiou-se
em vários locais. Em 1471, ele se estabeleceu em Yoshizaki (atual Fukui). Rennyo, discípulo de Shinran, foi um homem que
dedicou sua vida a difundir os ensinamentos autênticos e corretos de seu
mestre o mais amplamente possível entre as pessoas. Rennyo é freqüentemente
criticado por vulgarizar a filosofia profunda de Shinran ao comunicá-la às
massas. Mas, no que diz respeito ao Outro Pode,r é raro encontrar uma pessoa
que tenha exemplificado esta filosofia em sua vida de forma tão vital e
completa quanto Rennyo. (Hiroyuki Itsuki, Tariki) Rennyo escreveu oitenta cartas (jap. Ofumi
ou Gobunsho), em linguagem simples, para que as pessoas do povo
tivessem acesso aos ensinamentos de Shinran. Ele também criticou as seitas
que surgiram no seu tempo. Estas cartas foram compiladas em cinco volumes
por seu disípulo Ennyô e se tornaram extremamente importantes para a escola
Shin. Rennyo escrevia essas cartas como mensagens a
seus seguidores. As cartas contêm instruções detalhadas tanto sobre questões
de fé, tais como o modo de fazer reuniões religiosas, quanto sobre questões
mais práticas com respeito à defesa da Verdadeira Escola da Terra pura, tal
como a maneira de reagir à perseguição de guerreiras e senhores feudais
locais.
Leia nossos textos para sua evolução espiritual, eles são espirituais, ou uma sugestão de luz: leia um texto nosso semanalmente. Conheça o texto: Como Evoluir Espiritualmente.
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