A Escola Jôdo Shin

A escola Shin, ou Verdadeira Escola da Terra Pura (jap. Jôdo Shinshû), surgiu no Japão a partir dos ensinamentos de Shinran Shônin (ou Kenshin Daishi, 1173-1262), embora ele não tivesse fundado oficialmente uma escola.

Shinran tinha uma grande admiração pelo seu mestre Hônen e usava a expressão japonesa Shin — verdadeira, correta, autêntica — para designar os ensinamentos recebidos de Hônen através de uma linhagem de patriarcas que vinha desde a Índia, passando pela China e chegando ao Japão sem nunca ter se quebrado.

Como houve uma época em que a doutrina da recitação do nome de Amitabha foi proibida por um édito imperial, e como Hônen e Shinran foram exilados em províncias distantes, as escolas Jôdo e Jôdo Shin acabaram por se formar e se desenvolver de maneira independente.

No Ocidente, Daisetz Suzuki será provavelmente sempre lembrado como o homem que trouxe o Zen par aos Estados Unidos quase sozinho, pois esse é o lado que ele mostra nos seus escritos em inglês. Entrementes, porém, em livros para o seu próprio povo (os quais não foram traduzidos para o inglês senão depois da sua morte) ele mergulhava cada vez mais fundo nos escritos da escola Terra Pura para demonstrar a unidade essencial do buddhismo Mahayana como um todo. Mas para o Ocidente que tinha sido exposto quase totalmente aos escritos sobre o Zen de Suzuki seria surpreendente descobri-lo escrevendo que " de todos os desenvolvimentos que o buddhismo Mahayana realizou no Oriente, o mais notável é, de acordo com o meu julgamento, o ensinamento Shin da escola da Terra Pura.

(Huston Smith e Philip Novak, Budismo)

Shinran nasceu no clã Fujiwara, na vila de Hino a sudeste de Kyôtô, recebendo o nome Matsuwaka-maru. A época em que Shinran viveu, particularmente da infância ate a adolescência, foi um período conturbado da história do Japão. Os clãs guerreiros haviam se insurgido contra o governo reinante da nobreza, liderado pelo clã Fujiwara. Além disso, terremotos, fome e doenças assolavam a capital.

Seu pai, um aristocrata menor chamado Hino Arinori, era um membro da família do clã dos Fujiwara. Sua mãe provavelmente faleceu quando Shinran estava com oito anos de idade. Aos nove anos, foi levado por seu tio Noritsuna ao templo Shoren-in em Higashiyama, Kyôtô, tornando-se discípulo do monge Jien Sojo e recebendo o nome Hannen.

Quando tinha nove anos, o futuro mestre Shinran já tinha decidido que queria ser monge e pediu ao mestre Zen Jichin que o tonsurasse. Mestre Jichin então perguntou: "Você é tão jovem, por que quer ser monge?" Shinran respondeu: "Apesar de ter apenas nove anos, meus pais já faleceram. Não compreendo porque as pessoas têm de morrer. Por que tenho de me separar de meus pais? Quero ser monge para encontrar as respostas a essas perguntas."

Impressionado, mestre Jichin disse: "Muito bem! Já conheço seus motivos, posso aceitá-lo como discípulo. Mas agora está ficando tarde, espere até amanhã de manhã para a tonsura." Shinran discordou: "Mestre! Mesmo com sua promessa de me tonsurar amanhã de manhã, não posso garantir que minha determinação vá durar até lá. Além do mais, o senhor já está tão idoso, não pode me garantir que estará vivo amanhã."

Mestre Jichin ficou satisfeito e disse: "Você tem razão. Vamos proceder à tonsura imediatamente."

(Hsing Yün, Contos Ch'an)

Partiu então para o templo Mudô-ji-dani Daijô-in no monte Hiei, sede da escola Tendai. Shinran era um doso, um monge subalterno que conduzia cerimônias nos vários templos do Monte Hiei. Ele se dedicou aos mil dias de auto-disciplina (jap. sennichi-gyô). No templo Saitô Seikô-in, dedicou-se ao serviço do Buddha Amitabha como membro do Jôgyô-dô.

Na visitação de cem dias ao templo Rokkaku-dô, ele rezou ao príncipe regente japonês Shôtoku (considerado uma emanação do bodhisattva Avalokiteshvara), pedindo que lhe fosse revelado o caminho a ser seguido. Em 1201, na madrugada no nonagésimo quinto dia de seu retiro, seu amigo Seikaku levou-o a Hônen Shônin, que se tornou seu mestre ao encontrá-lo em Yoshimizu, Kyôtô. Mudou seu nome para Shakku e depois para Zenshin.

Ele abandonou o celibato monástico e se casou com Eshinni, filha de um samurai de alto escalão. Shinran definia-se como "nem monge nem leigo". Mesmo deixando votos monásticos tradicionais como o celibato e o vegetarianismo, Shinran demonstrou a legitimidade da prática do buddhismo no lar (jap. zaikeojô).

Quando o ensinamento do nenbutsu foi proibido, Hônen Shônin foi exilado para a ilha de Shikoku e Shinran foi exilado para Kokubu, em Echigo (atual Niigata). Foi perdoado em 1211, e ao saber da morte de Hônen, Shiran decidiu permanecer lá até 1214, prosseguindo depois pra Hitachi (atual Ibaragi), onde ensinou a recitação do nome do Buddha Amitabha. Dez anos depois, escreveu seu Ensinamento, Prática, Fé e Realização (jap. Kyô Gyô Shin Shô) em seis volumes. Nesta obra, ele cita sutras, tratados e comentários, apresentando suas principais idéias.

Depois de vinte anos, retornou a Kyôtô e continuou sua obra literária até o final de sua vida. Escreveu outros trabalhos e coleções de hinos, como o Shôzômatsu Wasan. De acordo com o seu Hino da Fé Verdadeira no Nenbutsu (jap. Shôshin Nenbutsu Ge), é possível alcançar a iluminação através da repetição do nome de Amitabha, e a fé na recitação do nenbutsu garante o renascimento na Terra Pura. Segundo Shinran, não há mente confiante separada da recitação do nome de Amitabha.

Existe um meio fácil de nascer na Terra Pura. É só se concentrar na recitação do nenbutsu, diz Hônen. Shinran encontrou refúgio no ensinamento de Hônen, mas levou-o a um nível ainda mais profundo. É fácil, ensinou Shinran, simplesmente recitar o nenbutsu, mas é muito mais difícil encontrar refúgio no buddha, honestamente e sem restrições, como uma criança faria. "Sem restrições" quer dizer descartar toas as nossas noções e conhecimentos preconcebidos. Devemos nos transformar em crianças inocentes, e isso é uma coisa difícil de fazer.

Além do mais, encontrar refúgio não é algo que se decida fazer conscientemente e que se alcance com um pouco de esforço. Pelo contrário, é-se naturalmente atraído para o refúgio pelo próprio poder magnânimo. A frase "não há nada que eu possa fazer" é, creio, uma perfeita expressão disso. Recitar o nenbutsu, "Namu Amida Butsu", não é curvar-se diante do Buddha e jurar a fé que nele se tem. Não é um esforço consciente de abandonar seu eu anterior. Não, é-se espontaneamente atraído para o ponto onde não se pode deixar de fazer isso. [...]

O pensamento de Shinran chegou ao ponto de ele declarar que "o Buddha supremo não tem forma". O Buddha Amitabha, em última análise, é "um meio de expressar Aquilo que É". Um Buddha em qualquer forma, seja uma estátua ou uma pintura, é uma representação narrativa, apenas um meio de expressão visual. Por trás da imagem, encontra-se jinen hoji, a infinita força vital do universo e a luz da verdade que ilumina toda a existência. [...]

A Verdadeira Escola da Terra Pura que Shinran fundou baseia-se em seu ensinamento do Outro Poder; ela não nos diz para tentarmos nos livrar de nossas obstruções e desejos. Isso a distingue das outras escolas do buddhismo japonês. Na verdade, é diferente do buddhismo da Índia e da China também.

(Hiroyuki Itsuki, Tariki)

O ensinamento central de Shinran é a mente confiante (jap. shinjin), a entrega ao voto original de Amitabha e a negação do próprio poder. As práticas do próprio poder incluem todas as práticas diferentes da recitação do nome de Amitabha e até mesmo esta recitação, se for feita sem a entrega total ao voto original de Amitabha. Segundo Shinran, não é possível salvar os outros com o próprio poder; seria necessário confiar primeiro no poder de Amitabha e atingir a iluminação na Terra Pura. A mente confiante tem três aspectos (jap. sanshin): a mente pura (jap. junshin), que confia sinceramente; a mente única (jap. isshin), que confia só no Buddha Amitabha; a mente contínua (jap, sôkushin), cuja confiança é ininterrupta, mesmo quando outros pensamentos surgem.

Devido à importância do Buddha Amitabha no buddhismo Terra Pura, muita gente parece achar que se trata de uma religião que adora o Buddha como um deus e que o Buddha é uma espécie de representação visual dele — uma imagem, uma pintura, algo modelado na figura de um ser humano. Mas, se olharmos para a verdadeira essência dos ensinamentos de Shinran, veremos que a imagem do Buddha é meramente um meio de assistir a fé.

À parte os poucos escolhidos que se envolvem numa prática religiosa especial, ou encontram a fé após sofrer algum tipo de despertar espiritual, é difícil para a maioria das pessoas apreender a realidade de seres invisíveis como deuses ou buddhas. É difícil para nós assimilá-los no nível emocional. E então, estátuas e pinturas dos buddhas tornaram-se objetos de veneração. Contaram-se todos os tipos de histórias buddhistas. Mas nada disse expressa necessariamente a essência da religião. A estátua ou pintura do Buddha, pousada com dignidade no templo, é uma nau para levar pessoas sofredoras à distante margem da paz e da tranqüilidade, uma lanterna para levar luz a um lugar escuro. Tais ícones são encarados como seres benéficos, estendendo a mão par anos, confusos, perdidos, tomando-nos pelas mãos e levando-nos na direção certa. É por isso que unimos nossas mãos em prece, curvamos a cabeça e agradecemos diante dessas imagens.

Mas esse não é o nosso objetivo. A verdadeira realidade concebida por Shinran, o lugar para onde todos serão finalmente conduzidos, era a Terra Pura, acima de todas as imagens. A Verdadeira Escola da Terra Pura, fundada por Shinran e depois popularizada por Rennyo, chamava a esse objeto primário da fé e da veneração do myôgo (nome). Esse nome era constituído de seis, oito ou às vezes dez caracteres chineses escritos num pedaço de papel, e este era venerado. Ao maioria desses myogo consistia dos caracteres Namu Amida Butsu ou "Encontro refúgio no Buddha Amitabha".

O que significa venerar essas palavras escritas, e que relação elas têm com nosso próprio sofrimento? O Buddha de Shinran era o conceito Namu Amida Butsu, e essa idéia não é como um Buddha concreto que pode ser visto com os olhos. A Terra Pura é, como a própria fé, invisível. Um mundo em uma escala infinita. É tempo eterno — algo que transcendeu todos os conceitos de tempo. É isso que Shinran expressava com as palavras Amida Butsu. Namu significa "refugiar-se em". Refugiar-se em alguma coisa quer dizer ajoelhar-se diante dela, abaixar a cabeça, entregar-se a ela completamente e fazer o voto de unir-se a ela. Rennyo desenvolveu o nenbutsu de Shinran, de refugiar-se no Buddha, em um nenbutsu que era uma expressão de alegria e gratidão por encontrar o Buddha, e foi essa forma que se popularizou. [...]

Em vez de recitar Namu Amida Butsu ou Namo Amida Butsu, enunciando claramente cada sílaba, muitos japoneses idosos dizem Namandabu ou até Namanda, mas estas são só versões abreviadas da fórmula original. Recitar Namanda está de completo acordo com a intenção de Shinran. Ele não estava dirigindo olhar a nenhuma imagem, mas à Terra Pura, uma região invisível, infinita e ilimitada, em oposição à esfera do pensamento racional e científico.

(Hiroyuki Itsuki, Tariki)

Yuienbô, discípulo de Shinran, compilou alguns de seus ensinamentos no Tratado de Lamentação das Heresias (jap. Tannishô), um comentário sobre as divergências quanto aos ensinamentos dados por Shinran Shônin. A obra apresenta o voto original (jap. hongan) de Amitabha, relacionando-o à mente confiante (jap. shinjin) e à recitação do nome de Buddha (jap. nenbutsu), apresentado como o caminho único e desimpedido para a iluminação. Segundo Shinran, o nenbutsu vem do outro poder e está além do próprio poder; confiar ou não no nenbutusu torna-se uma decisão de cada um.

O Tannishô é o texto sagrado em que se registra com exatidão o percurso da mente de Shinran Shônin, um religioso extraordinário que durante os noventa anos de sua existência buscou somente a verdade que perpassa a vida e a morte. A maior parte do que foi registrado nesta obra parece referir-se ao último período da vida do Shônin, talvez após os seus oitenta anos de idade. No cotidiano, em conversa franca e informal com seus jovens discípulos, podemos sentir a vibração de Shinran Shônin como pessoa. Por um lado, diante das perguntas dos discípulos vindos de Kanto, atual região de Tôkyô para visitá-lo, ele expressa suas convicções em um tom severo, como numa luta real; por outro lado, às vezes, qual luz da primavera que acolhe tudo com seu calor, ele abraça a aflição dos discípulos abrindo uma nova visão da mente. Ele também recorre a paradoxos sutis, derrubando a estrutura ilusória do senso comum, conduzindo-os ao mundo da verdade religiosa. Este livro revela que Shinran Shônin continua vivo no coração das pessoas. O texto do Tannishô não menciona seu autor. Mesmo na cópia mais antiga existente, de Rennyo Shônin (1415-1499), não há referência ao nome do autor, que, talvez, nunca tenha sido registrado no texto. Apesar disso, supõe-se que Yuien-bo, um discípulo direto de Shinran Shônin que morava em Kawada, atual cidade de Mito da província de Ibaragi, na província de Hitachi, nordeste de Tôkyô, tenha sido o autor desse texto.

(Da introdução de Jitsuen Kakehashi em Tannishô)

Quando confiamos que o voto inconcebível de Amitabha nos salva e assegura o nascimento na Terra Pura, surge em nosso coração o desejo de recitar o nenbutsu. Nesse mesmo momento, recebemos a dádiva de termos sido abraçados, protegidos e nunca mais abandonados. Precisamos nos conscientizar de que o voto original de Amitabha não faz distinção entre jovens e velhos, bons e maus. Só a mente confiante é essencial. Isso significa que o voto tem por fim salvar aqueles a quem afligem profundos males kármicos e intensas paixões maléficas. Assim, ao confiarmos no voto original, não dependemos de outras práticas virtuosas porque não há bem superior ao nenbutsu, nem precisamos temer o mal, pois não há mal capaz de impedir o voto original de Amitabha. [...]

Se até uma pessoa boa consegue nascer na Terra Pura, muito mais o poderá uma pessoa má. Entretanto, costuma-se dizer, "Se até uma pessoa má consegue nascer na Terra Pura, muito mais o poderá uma pessoa boa". Normalmente, essa afirmação soa razoável, e no entanto, contraria a intenção do voto original do outro poder porque quem pratica o bem com o seu poder próprio não confia só no outro poder, não corresponde ao voto original de Amitabha. Contudo, é quando a intenção de próprio poder se converte na confiança ao outro poder que se consegue nascer na verdadeira Terra da Recompensa. Amitabha fez o seu voto por compaixão a nós que, dominados por paixões maléficas, somos incapazes de nos libertar do samsara através de qualquer prática que realizemos. A intenção que gerou o voto é conduzir essas pessoas más à condição de buddha. A confiança no outro poder por parte de uma pessoa má é a causa verdadeira do nascimento na Terra Pura. Por isso as palavras, "Se até uma pessoa boa consegue nascer na Terra Pura, muito mais o poderá uma pessoa má."

(Tannishô)

Shinran Shônin dizia: "Não existe nenhum mal capaz de ultrapassar a promessa de Buddha [Amitabha] de salvar todos os seres." Pensamos que se fizermos algo mau seremos punidos, ou que nossas bênçãos dependem da quantidade de oferendas que fazemos. Mas isso são apenas idéias mesquinhas do cérebro humano. É claro que Buddha não pode ser medido por nossas curtas inteligências. Se fosse assim, o que seria o Buddha?

(Shundo Aoyama Rôshi, Para Uma Pessoa Bonita)

No século XIII, após o falecimento de Shinran, formou uma tradição que acabou se denominando como o Templo do Voto Original (jap. Honganji) do Buddha Amitabha, construído inicialmente como uma espécie de mausoléu para abrigar as cinzas de Shinran. Seu abade era sempre um descendente direto de Shinran. A família recebeu a designação Ôtani ou "grande vale" pelo fato de este templo estar localizado numa região com este nome. No final do século XVI e início do século XVII, após um período de intensas guerras internas no Japão, o Shôgun Ieyasu Tokugawa doou terras em Kyôtô para que descendentes da família Ôtani construíssem seus templos. Uma grande gleba de terra foi oferecida ao irmão mais novo no lado oeste da cidade, dando origem ao Templo do Voto Original do Oeste (jap. Nishi Honganji). Outra gleba foi oferecia para o irmão mais velho no lado leste da cidade, originando o Templo do Voto Original do Leste (jap. Higashi Honganji). A partir daí, os dois templos se constituíram como ordens religiosas independentes.

O Nishi Honganji deu origem à Ordem Honganji ou Ramo Honganji (jap. Honganji-ha ou abreviadamente Honpa). O Higashi Honganji deu origem à Ordem Ôtani ou Ramo Ôtani (jap. Ôtani-ha ou abreviadamente Daiha). Estes dois ramos da família de Shinran são os maiores da escola Shin. Além delas, outras oito ordens se formaram a partir de discípulos diretos de Shinran. Atualmente, a tradição Shin é a maior das escolas buddhistas japonesas.

Ser conduzido ao nascimento na Terra Pura significa o rompimento da pequena casca chamada "eu" que nos distingue dos outros para sentir-se interligado a todos, em união (jap. ichinyo), tornando-se alguém que "beneficia os seres vivos salvando-os tal como desejamos". Por essa razão, só seremos salvos da tristeza e do vazio gerados pelo amor finito, humano, confiando no grande caminho do voto original do nenbutsu. Essa é "a compaixão da Terra Pura". [...] O voto original do Buddha Amitabha nos dá o Namu Amida Butsu como a prática para o nascimento na Terra Pura, propiciando o bem a quem não o possui e tornando-se a prática de quem não a exerce, pra que todos os seres tornem-se um buddha, sem discriminação. Recitar o nenbutsu confiando nesse voto não significa recitá-lo para evitar o mal e praticar o bem, mas é simplesmente emocionar-se e agradecer a intenção do Tathagata que nos salva, doando-nos o nome sagrado, pleno de todas as virtudes.

(Da introdução de Jitsuen Kakehashi em Tannishô)

A compaixão do caminho dos sábios [jap. shôdômon] e a do caminho da Terra Pura [jap. jôdomon] são diferentes. A compaixão do caminho dos sábios significa ter empatia com o outro, sentir como seu o sofrimento alheio e velar por todos os seres vivos. Porém, é muito difícil salvar plenamente os seres vivos da forma como o desejamos. A compaixão do caminho da Terra Pura significa tornar-se de imediato um buddha através da recitação do nenbutsu e, com a mente da grande compaixão, beneficiar os seres vivos salvando-os tal como desejamos. Nesta vida, mesmo tendo empatia e sentindo o sofrimento alheio como se fosse nosso, é difícil salvar os seres vivos conforme desejamos, Por isso, nossa compaixão é incompleta. Apenas a recitação do nenbutsu manifesta a mente da grande compaixão que propicia a salvação plena. [...] Acreditamos, porque nos foi ensinado, que seres ignorantes [jap. bonbu] de capacidade inferior, como nós, alguns analfabetos, serão salvos se tiverem a mente confiante. Para as pessoas de maior capacidade, este ensinamento pode parecer desprezível, mas para nós, ele é elevado. Ainda que existissem ensinamentos superiores, não conseguiríamos segui-los pois ultrapassariam a nossa capacidade. O desejo fundamental dos buddhas é libertar a mim e a vocês do samsara.[...]

Como esses miseráveis seres errôneos que somos poderiam ser libertados do samsara, não fosse o voto compassivo? Pensando assim, todo o nenbutsu que recitamos ao longo de nossa vida é para correspondermos a essa dádiva da grande compaixão do Tathagata e para agradecermos os seus benefícios. [...] Alcançar a condição de Buddha na próxima existência é o principal ensinamento da escola da Terra Pura do outro poder e o fundamento par a consolidação da mente confiante. Essa é também a prática fácil [jap. igyô], acessível às pessoas de capacidade inferior. Esse ensinamento não discrimina entre o bom e o mau. Na era atual, extinguir as paixões e os obstáculos maléficos durante a vida é extremamente raro. Por isso, até mesmo os monges puros que praticam o Shingon e o Hokke também anseiam pela iluminação na próxima existência. O que dizer então de nós? Mesmo que sejamos incapazes de seguir os preceitos e que nos falta a compreensão da sabedoria, atravessaremos o mar de sofrimento do samsara e chegaremos à margem da Terra da Recompensa a bordo da nau do voto de Amitabha. Assim desaparecerá de imediato a nuvem negra das paixões maléficas, surgirá instantaneamente a lua da iluminação da natureza do Dharma, nos uniremos à luz sem impedimento que brilha nas dez direções e poderemos beneficiar todos os seres. Nesse momento atingiremos a iluminação.

(Tannishô)

Depois de Shinran, o principal propagador da escola Shin foi Rennyo Kenju (1415-1499), o oitavo abade do Honganji. Rennyo transformou o templo Honganji no centro da escola Shin e principal instituição religiosa do Japão medieval. Devido aos ataques dos monges guerreiros do templo Enryakuji (sede da escola Tendai), Rennyo refugiou-se em vários locais. Em 1471, ele se estabeleceu em Yoshizaki (atual Fukui).

Rennyo, discípulo de Shinran, foi um homem que dedicou sua vida a difundir os ensinamentos autênticos e corretos de seu mestre o mais amplamente possível entre as pessoas. Rennyo é freqüentemente criticado por vulgarizar a filosofia profunda de Shinran ao comunicá-la às massas. Mas, no que diz respeito ao Outro Pode,r é raro encontrar uma pessoa que tenha exemplificado esta filosofia em sua vida de forma tão vital e completa quanto Rennyo.

Hônen ensinou que a difícil prática de alcançar o nascimento na Terra Pura podia ser facilitada. A tarefa de Shinran foi tomar esse caminho fácil que seu mestre ensinou e trilhá-lo mais a fundo. E Rennyo dedicou sua vida a propagar amplamente a fé profunda de Shinran entre as pessoas. Por meio desse triplo processo de "tornar fácil o que é difícil", "profundo o que é fácil" e "amplo o que é profundo", o buddhismo japonês pôde perdurar no coração das pessoas. [...]

Não foi outro senão Rennyo que inventou a cerimônia de veneração matinal da Verdadeira Escola da Terra Pura e a firmou entre seus seguidores. Ele combinou a passagem dos "versos da autêntica fé, o nenbutsu e o poema japonês do Wasan em um ofício a ser recitado pela manhã e ao anoitecer. Gradualmente, as pessoas o adotaram e fizeram dele parte do ritmo de suas vidas. A cerimônia que Rennyo inventou quinhentos anos atrás foi passada de geração em geração por todo esse tempo. [...] Quando nos damos conta de que centenas de milhares — não, milhões — de pessoas do povo passaram esse buddhismo de geração em geração, como parte de suas vidas, de seu próprio ser, não podemos deixar de nos impressionar com o fôlego e o valor do que Rennyo nos deixou.

(Hiroyuki Itsuki, Tariki)

Rennyo escreveu oitenta cartas (jap. Ofumi ou Gobunsho), em linguagem simples, para que as pessoas do povo tivessem acesso aos ensinamentos de Shinran. Ele também criticou as seitas que surgiram no seu tempo. Estas cartas foram compiladas em cinco volumes por seu disípulo Ennyô e se tornaram extremamente importantes para a escola Shin.

Rennyo escrevia essas cartas como mensagens a seus seguidores. As cartas contêm instruções detalhadas tanto sobre questões de fé, tais como o modo de fazer reuniões religiosas, quanto sobre questões mais práticas com respeito à defesa da Verdadeira Escola da Terra pura, tal como a maneira de reagir à perseguição de guerreiras e senhores feudais locais.

Quando o líder da aldeia recebia uma carta de Rennyo, conclamava todos os seguidores locais para uma reunião chamada de ko (literalmente, "palestra"). Nessa reunião religiosa em nível de aldeia, ele lia a carta em voz alta. Ao fazê-lo, os pensamentos de Rennyo eram transmitidos a dezenas de outras pessoas. Os ouvintes decoravam a carta, voltavam a seus povoados e mais uma vez passavam adiante a mensagem de Rennyo. Às vezes, as cartas eram copiadas e, então, enviadas a outro ko, ou grupo de seguidores. Alguns seguidores que possuíam cópias das cartas de Rennyo as recitavam todos os dias, ao amanhecer e ao fim da tarde, exatamente Omo se fossem sutras buddhistas. Dessa forma, os ensinamentos de Rennyo foram transmitidos à geração seguinte, e a organização Honganji cresceu a passos largos. Foi só esse substancial sucesso mundano de expansão do Honganji que, sem dúvida, resultou nas críticas e ataques que foram dirigidos a Rennyo. [...]

Se Shinran é alguém em busca do caminho, Rennyo é um propagador do caminho. Ambos buscavam a mesma verdade, mas seguiram rotas diferentes para chegar a ela. Rennyo forneceu às massas japonesas do período medieval uma identidade dentro de uma comunidade religiosa. Em seus últimos anos, Rennyo elevou o Honganji à condição de uma instituição diante da qual até os grandes senhores feudais do período tremiam. Ele foi um homem de sucesso, que atingiu os seus objetivos e conquistou fama e reconhecimento em vida.

(Hiroyuki Itsuki, Tariki)

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