A Escola Jôdo

No século XII, o monge japonês Hônen Shônin (1133-1212) fundou a Escola da Terra Pura (jap. Jôdo-shû), tomando como base a escola chinesa Ching-t'u.

Hônen (chamado Seishimaru em sua infância) nasceu em Kume, Mimasaka (atual Okayama). Ele nasceu em uma família aristrocrática, sendo filho de um samurai. Quando tinha nove anos, seu pai foi morto por Minamoto no Sadaki numa emboscada. A pedido do próprio pai, ele não se vingou e tornou-se monge, aos treze anos, sob a orientação de Kankaku do templo Bodai-ji. Aos quinze, passou a estudar no monte Hiei (sede da escola Tendai) com os monges Genkô, Kôen e mais tarde com Eiku, que lhe deu o nome Hônen-bo Genkû.

Aos dezoito anos, ele entrou no templo Saito Kurotani Seiryuji e, aos vinte e quatro, deixou o monte Hiei para visitar mestres das escolas de Nara e Kyôtô, aprofundando seu conhecimento dos sutras e particularmente nos textos relacionados à Terra Pura de Amitabha. Mais tarde, retornou ao monte Hiei.

Com a idade de quarenta e três, ao ler a coleção de textos da biblioteca Hoonzao, encontrou um comentário do monge chinês Shan-tao (jap. Zendô) sobre o Sutra da Contemplação, ensinando a a recitação contínua do nome de Amitabha como caminho. Hônen decidiu seguir definitivamente a escola da Terra Pura e fundou o templo Chion-in em Yoshimizu, Kyôtô .

Em 1198, [atendendo ao pedido do senhor feudal Fujiwara Kanezane,] escreveu a sua obra principal, o Senjaku Hongan Nenbutsu-shô (Coletânea sobre a Escolha do Nenbutsu do Voto Original), onde expõe as razões de sua adesão ao nenbutsu. Enfrentou perseguições e exílios, por se indispor com monges e membros da Corte, sendo anistiado no fim da vida. Seu curto texto Ichimai Kishoman (O Sermão em uma Folha), escrito pouco antes de morrer, resume suas idéias: o método da libertação pregada não consiste na contemplação, nem na invocação a Buddha, dirigida após estudos, mas na convicção de que a pronúncia da invocação "Eu tomo o Buddha Amida como meu Refúgio", com a intenção de ir nascer na Terra Pura, será conseguida.

(Eduardo Basto de Albuquerque, O Mestre Zen Dôguen)

Esta vida deve ser vivida de forma que o nenbutsu possa ser recitado. Tudo o que pode impedir o nenbutsu deve ser rejeitado. Se ele não puder ser recitado de maneira pura, deve ser recitado com práticas ascéticas. Se ele não pode ser recitado com práticas ascéticas, deve ser recitado de maneira pura. Se ele não pode ser recitado na condição de asceta, deve ser recitado na condição de leigo. Se ele não pode ser recitado na condição de leigo, deve-se renunciar ao mundo para recitá-lo. Se ele não pode ser recitado na solidão, deve ser recitado com companheiros. Se ele não pode ser recitado com companheiros, deve ser recitado na solidão. Se, confiando apenas no esforço próprio, não for possível recitá-lo por causa da insuficiência de roupa e alimento, que ele seja recitado apelando-se para o auxílio alheio. Se ele não pode ser recitado com auxílio alheio, deve ser recitado com o esforço próprio.

(Hônen Shônin)

Até o período Kamakura (1185-1333), a prática religiosa das primeiras escolas buddhistas japonesas ainda estava centralizada nos centros monásticos, que por sua vez estavam ligados à aristocracia. Entretanto, a partir do século X, o buddhismo amidista tornou-se muito difundido entre as camadas populares, especialmente devido à crença na era do fim do Dharma (jap. mappô), prevista pelo Buddha Shakyamuni antes de alcançar o parinirvana. Muitos acreditavam que estas profecias estavam se concretizando pois, a partir de 1069, o Japão entrou em um período de fome, crises, epidemias, guerras civis e insegurança. No século XII, os monastérios buddhistas passaram a se identificaram com os poderosos clãs que estavam surgindo. Em 1252, seria concluída concluída a grande estátua de Amitabha em Kamakura.

A prática fácil da recitação do nome de Buddha (jap. igyô nenbutsu), enfatizada por Hônen, tornou-se muito popular e despertou a inveja de monges de outras escolas. Em 1204, os monges da escola Tendai pediram ao monge superior do monastério Enryaku-ji, Shôshin, que tomasse providências contra a propagação dos ensinamentos do nenbutsu.

Em 1206, dois discípulos de Hônen foram acusados de seduzir uma donzela da corte, iniciando-se assim a perseguição ao nenbutsu. 

Eles foram executados e Hônen foi exilado para a ilha de Shikoku. Somente em 1211, ele foi perdoado e autorizado a retornar a Kyôtô, onde adoeceu e faleceu no ano seguinte.

Suas obras foram compiladas no Kurdani Shônin Gotoroku, em dezoito volumes. Hônen também se tornou conhecido pelos nomes Ganso Shônin, Yoshimizu Daishi e Kurodani Shônin. 

Em 23 de Janeiro de 1212, dois dias antes de morrer, Hônen ditou a seu discípulo Ganchi sua Profissão de Fé de Uma Página (jap. Ichimai Kishomon), um relato de seu ensinamento essencial. Em seu estilo de ensinar, ele reafirma a necessidade de estar atento a nossa própria ignorância e recitar o nome de Amitabha com a mente una. Este breve texto é usado com freqüência nas cerimônias diárias dos monges da escola Jôdo:

Na China e no Japão, muitos mestres buddhistas e eruditos entendem que o Nenbutsu é uma meditação profundo sobre o Buddha Amitabha e a Terra Pura. Contudo, eu não entendo o Nenbutsu desta forma. Recitar o Nenbutsu não vem do estudo ou do entendimento de seu significado. Não há outra razão ou causa pela qual nós possamos acreditar definitivamente em obter o renascimento na Terra Pura do que o Nenbutsu em si. Recitando o Nenbutsu e acreditando no nascimento na Terra Pura, naturalmente brotam as três mentes [jap. sanjin] e os quatro métodos de prática [jap. shishû]. Se eu estiver guardando qualquer outro conhecimento além da simples recitação do Nenbutsu, então possa eu perder de vista a compaixão de Buddha Sakyamuni e Amitabha e escorregar por entre o abraço do Voto Original de Amitabha.

Mesmo se aqueles que acreditam profundamente no Nenbutsu, estudarem todos os ensinamentos que Shakyamuni proferiu durante sua vida, eles devem continuar praticando o Nenbutsu com a sinceridade daqueles discípulos ignorantes das doutrinas buddhistas. Eu, de aqui em diante, autorizo este documento com a letra de meu punho. O caminho da escola Jôdo da mente serena [jap. anjin] é inseparável aqui. Eu, Genkû, não possuo nenhum outro ensinamento além deste. De maneira a evitar más interpretações depois de minha morte, eu faço este testamento final.

(Hônen, Ichimai Kishomon)

Entre os principais discípulos de Hônen, destacaram-se Shôkobô Ben-a (ou Benchô, 1162-1238), Ryôkaku (1148-1227), Zen-ebo Shôku (1177-1247), Kôsai (ou Jokaku Bô, 1163-1247), Shinran (1173-1262), Chôsai (ou Kakumyô Bo, 1184-1266) e Ryûkan (1148-1227).

A escola Jôdô dividiu-se em dois ramos, Shirahata e Myôetsu. Atualmente, a escola Jôdo possui três subdivisões e aproximadamente 8.500 templos e monastérios.

"Prática fácil" é usado em contraste com "práticas difíceis", tais como o ascetismo e o estudo. A palavra ôjô (nascimento na Terra Pura) é usada hoje no Japão para significar morte, atingir a condição de Buddha ou renascer na Terra pura da Suprema Bem-Aventurança, mas dou-lhe uma interpretação um pouquinho diferente. Interpreto ôjô como querendo dizer "dar a força de viver", "sentir a alegria da vida" e "um senso de paz verdadeira, ainda que se esteja sofrendo ou ansioso".

Àqueles que buscavam desesperadamente o nascimento na Terra Pura em sua época, Hônen disse que não havia necessidade de abraçar estudos ou práticas difíceis e rigorosos. Tudo que precisavam fazer era acreditar no Buddha e recitar o nenbutsu. Bastava isso para serem salvar infalivelmente. Suas palavras eram cheias de confiança. No contexto do mundo buddhista da época, essa era uma declaração radical, até escandalosa, e Hônen acabou em sérios apuros por causa de suas crenças. Diversos de seus discípulos foram presos e executados, e tanto ele quanto [seu discípulo] Shinran foram exilados.

Mas Hônen continuou a insistir que o nenbutsu era todo o necessário. Não havia necessidade de qualquer outra prática. Bastava entoar Namu Amida Butsu. O que dava a Hônen a confiança para falar dessa maneira? Ele insistia que quem tivesse fé exclusiva no Buddha e recitasse o nenbutsu renasceria na Terra Pura, mas não havia nenhuma prova objetiva da veracidade dessa afirmação. No entanto, havia um bom motivo para que Hônen pudesse pregá-la com tanta confiança. [...]

Ele, um indivíduo com muitos sofrimentos pessoais, vivendo num mundo difícil, efetivamente sentiu uma força para viver, uma alegria de viver e a paz na existência por meio da simples e exclusiva prática do nenbutsu, sem qualquer estudo difícil ou árdua prática ascética. Foi por isso que Hônen defendeu tão energicamente a prática fácil para o nascimento na Terra Pura [jap. igyô ôjô], e por isso seus ensinamentos estimularam e influenciaram tantos outros. [...] Hônen, fundador da Escola da Terra Pura, ensinava entusiasticamente o nenbutsu como um meio de vivenciar o poder invisível do universo e iluminar a escuridão de nosso mundo.

(Hiroyuki Itsuki, Tariki)

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