Entrevista com o Dr. Igor Teo sobre o Ego vinculado a Crença Espiritualista

O Dr. Igor Teo é formado em Psicologia e mestre em Psicanálise. Atua como terapeuta e é autor de livros sobre filosofia e espiritualidade.

Perguntas: Ryath

- Como que ocorre a inflamação do ego no Espiritualismo?

Esses problemas de ego é o que chamamos de narcisismo na psicanálise. O narcisismo existe desde sempre. Ou melhor, desde que nascemos. É normal em nossa criação pensarmos que somos muito importantes para nossos pais, professores, a sociedade. Pensamos isso porque os adultos nos amam e cuidam de nós, na melhor das hipóteses. Aprendemos desde cedo a negociar esse amor em troca de comportamentos. Fazemos coisas para agradar o outro, para que no final ele bata palmas para nós e diga: que bonito você é! Isto faz com que nos sintamos amados. O narcisismo é uma necessidade de amor. E achamos que vamos ser amados quanto mais belos, inteligentes, fortes e capazes formos. Criamos assim um ideal, uma falsa percepção de nós que estamos a todo momento alcançar ou convencer as outras pessoas que conquistamos isso.



- Como que os espiritualistas convivem com esse problema? O que se passa dentro e fora deles?

 Na espiritualidade isso fica muito evidente quando alguém quer se passar por melhor do que realmente pode ser. Desde a antiguidade, as doutrinas espirituais transmitiram ao ser humano ensinamentos para que pudessemos ser pessoas melhores e tratarmos uns aos outros com compaixão. Dentro das religiões, aprendemos que bom é ser assim. O que está bem. O problema é quando começamos a ocultar partes negativas da nossa personalidade para enfiar uma máscara de sujeito evoluído, sabe? O psiquiatra Carl Gustav Jung chamava esses elementos que escondemos de Sombra. Mais cedo ou mais tarde, o que recalcamos tende a retornar. São os rompantes de raiva, intolerância ou mesmo reações reativas e conservadoras a coisas, que nem mesmo o sujeito sabe explicar porquê age assim.



- Esse problema atrapalha na vida dos espiritualistas? Quais prejuízos trás?

 O maior prejuízo está na relação consigo mesmo. A compaixão que aprendemos na espiritualidade deve começar com nós mesmos. Antes de amar o outro, temos que saber amar e tratar com compaixão o nosso próprio self. Isso não quer dizer ser autocomplacente. Significa apenas que reconhecemos nossa humanidade. Se não vamos nos pautar por ideais que não estamos a altura, e reagimos com raiva e cegueira ao nosso próprio eu imperfeito. Muito sofrimento autoperpretado nasce daí.



- Por que acontece o estimulo do ego no Espiritualismo?

 Creio que porque levamos para a espiritualidade a nossa necessidade de aceitação. Todos nós temos nossas feridas. Não está errado admitir que deseja se sentir amado e apoiado. A questão é: a que custo? Um falso ego espiritual é uma maneira de vestir uma máscara para se sentir a altura de seu próprio ideal, e, portanto, merecedor da idolatria de outras pessoas. Mas a idolatria é um falso sentimento. Os mestres espirituais sempre exerceram em vida a virtude da humildade. Sem humildade, é difícil vivermos uma vida autêntica. A idolatria é vaidade.



- O orgulho e a vaidade dos religiosos é uma forma de fanatismo? Leva eles a intolerância e ao moralismo também?

Sim. Os fanáticos não lidam bem com a possibilidade de estarem errados. Ou seja, recusam sua própria humanidade. Quem é humano erra. Faz parte. Por isso precisamos aprender a compaixão. Não estou dizendo que vamos ser indulgentes com o erro e cair num niilismo absoluto. Quero dizer que precisamos ser humildes para reconhecer nossos limites. Há uma grande liberdade em ser limitado, sabia? Justamente nos liberta do peso de ser intolerantes e moralistas com os outros e com nós mesmos. 



- Como um espiritualista que está com o ego inflado pode mudar essa situação? Se tornar simples e humilde em sua crença?

 No meu entender, que é uma visão bastante influenciada pelo Taoismo, devemos buscar a nossa autenticidade. Quando pensamos alto demais, em orgulho e vaidade, não estamos em contato com nossos reais interesses. São coisas que fazemos por narcisismo. Para satisfazer a outras pessoas. Ser autêntico é fazer o que é justo e verdadeiro para você. E aí, quem já se perguntou se continuaria fazendo as mesmas coisas se ninguém estivesse olhando? O que você faria se ninguém soubesse? Se a resposta for a mesma coisa de quando outras pessoas estão olhando, você então está sendo autentico consigo mesmo.



- A Psicanálise fala sobre esse problema? O que ela diz?

 A psicanálise tem a sua própria linguagem, mas enquanto linha terapêutica não falará algo muito diferente do que vemos na clínica ser verdadeiro. Talvez seja difícil viver sem nenhuma dose de narcisismo, mas em excesso não tem vida que aguente tanto sofrimento.



- Para o Budismo e a Psicologia Analítica o ego é uma ilusão. Você concorda com essa visão? Essa informação pode ajudar os espiritualistas?

Tanto pela psicanálise quanto pelo taoismo, eu entendo que o ego é uma ilusão criada em algum momento. Mas é uma ilusão necessária para viver. Até o final dessa vida vamos precisar de um nome, um documento, uma história... a questão é o tamanho do seu ego. Se o seu nome precisa estar acima de tudo, talvez não seja um caminho muito fácil para você. Agora se você sabe colocar os limites às necessidades do seu ego, e poder usá-lo para contribuir com o caminho de outras pessoas, acho que isso ajuda não apenas espiritualistas, mas a qualquer um.

 

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