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Escola Nyingma de Budismo Vajrayana
A Escola Antiga (tib. Nyingma[-pa] /
rNying ma [pa]) surgiu a partir das primeiras tradições budistas
introduzidas no Tibet. Apesar de ter se tornado uma tradição distinta apenas
no século XV, suas origens remontam ao século VIII, com a chegada dos
mestres indianos Padmasambhava, Vimalamitra, Vairotsana e Shantarakshita. As
outras três escolas do buddhismo tibetano Sakya, Kagyü e Gelug são
coletivamente chamadas de Escolas Novas (tib. Sarma / gSar ma),
pois utilizam textos de traduções relativamente recentes. A escola Nyingma
utiliza as traduções mais antigas do budismo tibetano, anteriores à
perseguição do rei Lang Darma no século IX.
O indiano Vimalamitra (século VIII) levou esses ensinamentos da
Índia ao Tibet, onde foram sintetizados pelo tibetano Longchenpa (tib.
kLong chen pa, 1308-1364). Segundo ele, As aparências da realidade são a sabedoria do
caminho,
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O grande mestre desta escola foi Padmasambha (tib. Pemajungne / Pad
ma 'byung nas, século VIII), também conhecido como o Mestre Precioso
(tib. Guru Rinpoche / gu ru rin po che). Segundo suas biografias,
Padmasambhava teria nascido (sânsc. sambhava) em um lótus
(sânsc. padma), no país de Uddiyana (tib. Orgyen / O rgyan),
entre o Afeganistão e o Paquistão. Padmasambhava tornou-se um grande adepto (sânsc.
mahasiddha) do buddhismo Vajrayana e viajou ao Tibet com o objetivo de
pacificar "as divindades e demônios" do local e de introduzir os
ensinamentos buddhistas no país. A escola Nyingma classifica esses ensinamentos ensinamentos em nove
veículos (sânsc. yana). Os três primeiros são chamados de
veículos da causa (sânsc. hetuyana), e os seis últimos de
veículos do resultado (sânsc. phalayana):
Os tantras externos enfatizam a purificação das ações, palavras e
pensamentos. Os tantras internos do Maha-yoga e Anu-yoga enfatizam a
transformação a transformação da percepção de de todos os fenômenos na
dimensão pura de um mandala. Já os ensinamentos do Ati-yoga ou Grande
Perfeição (tib. Dzogchen/ rDzogs chen) enfatizam a autoliberação
de todos os fenômenos em sua verdadeira natureza. Na escola Nyingma, a Grande Perfeição é considerada o ensinamento
supremo do budismo esotérico, através da linhagem de transmissão direta de
mente a mente, os ensinamentos teriam sido transmitidos por Samantabhadra a
Vajrasattva. Vajrasattva então teria transmitido os 6.4000.000 versos de
ensinamentos da Grande Perfeição a Garab Dorje. Depois, através da linhagem
de transmissão através de sinais, Garab Dorje transmitiu os ensinamentos a
Manjushrimitra, continuando com Shrisimha, Jnanasutra, Vimalamitra e
Padmasambhava. Finalmente, através da linhagem de transmissão oral, os
ensinamentos foram transmitidos por Vimalamitra e Padmasambhava ao rei
Trisong Detsen, a Yeshe Tsogyal e ao tradutor Vairotsana, entre outros. Os ensinamentos Dzogchen não são uma filosofia,
nem uma doutrina religiosa, nem uma tradição cultural. Compreender a
mensagem dos ensinamentos significa descobrir a própria condição, despida de
todas as decepções e falsificações que mente cria. O próprio significado do
termo tibetano Dzogchen, Grande Perfeição, refere-se ao verdadeiro
estado primordial de todo indivíduo e não a uma realidade transcendental.
[...] [No Dzogchen, existe a transferência no corpo de arco-íris.] Essa
realização específica, que foi realmente feita por mestres como
Padmasambhava, Vimalamitra e Tapihritsa na tradição Bön, envolve a
transferência ou reabsorção, sem uma morte física, do corpo material na
essência luminosa dos elementos; nesta realização, o corpo desaparece do
campo de visão dos seres comuns. Se for possível realizar este corpo de
arco-íris durante a vida, ainda é possível fazê-lo após a morte, como tem
acontecido com muitos praticantes de Dzogchen no Tibet em tempos recentes.
[...] O corpo de arco-íris é a realização suprema do Dzogchen. (Chögyal Namkhai Norbu, Dzogchen) A verdadeira natureza da mente é uma pureza original completa em si
mesma, não precisando ser incrementada por qualquer modo. Quando tentamos
olhar para a mente, não conseguimos encontrar nada. Uma pessoa à qual falta
visão não irá descobrir nada, e tampouco irá um ser iluminado. Não obstante,
tudo o que se manifesta é a atividade, o jogo da mente, por nenhum modo
separado da mente, do mesmo modo que as ondas não estão separadas do mar. Dentro da natureza da mente, samsara e nirvana estão completos. A
própria iluminação não está além dessa natureza. Esse estado completo que
inclui todo o samsara, o nirvana, a própria iluminação é o âmbito da Grande
Perfeição. [...] Portanto, o fundamento da Grande Perfeição é essa
grande consumação. O caminho é o processo de remoção daquilo que
obscurece a natureza fundamental da mente. E o fruto é a realização
plena dessa natureza fundamental, quando inteiramente revelada. [...] Em minha vida, testemunhei quatro pessoas alcançando o corpo de
arco-íris na hora da morte; elas não moravam em monastérios, mas viviam com
suas famílias. Quando tinha vinte e dois anos, presenciei um homem alcançar
o corpo de arco-íris, e a maioria das pessoas sequer sabia que ele fazia
prática espiritual. Não é o corpo que alteramos para nos tornarmos
iluminados é a mente. (Chagdud Tulku Rinpoche, Portões da Prática
Budista) Manjushrimitra dividiu os tantras da Grande Perfeição em três
classes:
Através da prática do trekchö (tib. Khreg Chod, "cortar
através") no Dzogchen em geral e especialmente no Nyingthig, muitos
meditadores realizam a natureza intrínseca de suas mentes e rapidamente
fundem suas mentes na natureza última, o estado búddhico, nesta mesma vida.
Na hora da morte, com raios, auras e círculos de luz, muitos dissolvem seus
corpos mortais, deixando para trás apenas o seu cabelo e unhas. É chamado o
atingimento do corpo de arco-íris ou corpos de luz de arco-íris (tib.
Jalü/ 'Ja lus), pois luzes aparecerem durante o processo de dissolução e
o corpo de luz de sabedoria do sambhogakaya é atingido. Através da prática
de thögal (tib. Thod rgal) do Nyingthig, grandes meditadores também
atingem o estado búddhico e na hora da morte muitos transformam seus corpos
mortais em corpos de luz e permanecem neles, visíveis apenas para os seres
realizados enquanto desejarem. Isto é chamado o corpo de arco-íris da grande
transformação (tib. Jalü P'howa Chenpo/ 'Ja lus 'Pho ba Chen Po).
[...] Em todos os tantras internos [Mahayoga, Anuyoga, Atiyoga], os
iniciados praticam ambos os estágios ou a união dos dois estágios — o
estágio de desenvolvimento e o estágio de perfeição. Mas às vezes os três
tantras internos são também caracterizados por serem do estágio de
desenvolvimento, do estágio da perfeição, e do estágio da grande perfeição.
Entretanto, há diferenças na ênfase na Visão e Meditação e na rapidez dos
resultados. (Tulku Thondup, Masters of Meditation
and Miracles) Além da transmissão oral (tib. kama / bka' ma) de
ensinamentos, esta escola também utiliza a transmissão através de
tesouros (tib. terma / gter ma), escondidos principalmente por
Padmasambhava e sua consorte, Yeshe Tsogyal (tib. Ye shes mTsho rgyal,
757-817). Os tesouros da terra (tib. sater / sa gter) podem
ser manuscritos, relíquias, objetos e até elementos naturais, guardados em
locais secretos e descobertos na época apropriada por pessoas especiais,
tertöns (tib. gter ston), profetizados por aqueles que esconderam
os tesouros. Em outra categoria, tesouro do espaço (tib. longter /
klong gter), os ensinamentos ficariam guardados secretamente na própria
mente dos tertöns, surgindo na época apropriada. [Os termas] são escrituras que foram deliberadamente escondidas e
descobertas em sucessivos momentos apropriados por mestres realizados,
através do seu poder iluminado. Os termas são ensinamentos que representam
uma profunda, autêntica e poderosa forma tântrica do treinamento buddhista.
Centenas de tertöns, os descobridores dos tesouros de Dharma, encontraram
milhares de volumes de escrituras e objetos sagrados, escondidos na terra,
na água, no céu, nas montanhas, nas rochas e na mente. Praticando estes
ensinamentos, muitos de seus seguidores alcançaram o estado de iluminação
completa, o estado búddhico. Várias escolas do buddhismo no Tibet têm
termas, mas a escola Nyingma tem a tradição mais rica. (Tulku Thondup, Hidden Teachings of As transmissões de tesouros são canalizadas através de seis
linhagens: [1] a transmissão de mente iluminada para mente iluminada dos
buddhas; [2] transmissão de indicação [ou simbólica] dos detentores do
conhecimento; [3] transmissão oral dos discípulos comuns; [4] transmissão da
iniciação aspiracional, ou transmissão do mandato da mente; [5] transmissão
através de autorização profética; e [6] transmissão às dakinis. (Tulku Thondup, Masters of Meditaiton
and Miracles) Os primeiros tertöns foram Sangye Lama e Drapa Ngösho (século XI).
Nyang Ral Nyima Özer (1124-1192), Chökyi Wangchug (1212-1270) e Rigdzin
Gödem (1337-1409) foram os "três grandes tertöns", considerados emanações da
mente, fala e corpo de Padmasambhava. Posteriormente, apareceram Örgyen
Lingpa (1323-1360), Sangye Lingpa (1340-1396), Dorje Lingpa (1346-1405),
Karma Lingpa (século XIV), Ratna Lingpa (1403-1479), Pema Lingpa
(1445/50-1521), Terdag Lingpa (1634/1646-1714), Jigme Lingpa (1729-1798),
Pema Ösel Dongag Lingpa (ou Jamyang Khyentse Wangpo, 1820-1892) e Terchen
Chögyur Dechen Shigpo Lingpa (1829-1870). Um dos tesouros mais conhecidos, revelado por Karma Lingpa, é o
livro da Liberação através do Ouvir no Estado Intermediário (tib.
Bardo Thödröl / Bar do Thos sgrol), mais conhecido no ocidente como o
"Livro Tibetano dos Mortos" (em alusão ao Livros dos Mortos dos egípcios,
porém sem qualquer relação direta entre eles). Ainda hoje, existem muitos
termas a serem descobertos, revitalizando e atualizando constantemente os
ensinamentos da escola Nyingma. Ler obras espirituais nos faz evoluir espiritualmente. Leia nossos textos para sua evolução espiritual, eles são espirituais, ou uma sugestão de luz: leia um texto nosso semanalmente. Conheça o texto: Como Evoluir Espiritualmente. |