|
O Budismo
Esotérico ou Vajrayana A expansão do budismo pode ser dividida em cinco
períodos: 1.
Séculos VI-V a.C.: o Dharma foi exposto pelo Buda e
difundido por seus discípulos; 2.
Séculos V a.C. - I d.C.: foram realizados os concílios
budistas e surgiram as primeiras escolas; 3.
Séculos I-VI: surgimento do buddhismo Mahayana; 4.
Séculos VII-XIII: expansão do Budismo Esotérico (Vajrayana). 5.
Séculos XIX-XX: chegada do buddhismo ao Ocidente. O Vajrayana, ou Veículo de Diamante,
ou Budismo Esotérico surgiu por volta do século V nas regiões nordeste e
noroeste da Índia. Este movimento também é conhecido como Veículo do
Tantra (sânsc. Tantrayana) e Veículo do Mantra (sânsc.
Mantrayana). O Vajrayana é uma forma específica de budismo Mahayana que
foi difundido pela Ásia Central, Tibet, Nepal, Butão, Mongólia, China e
Japão (onde é chamado Mikkyô, ensinamento secreto ou
ensinamento esotérico). Através da Mongólia, o buddhismo tibetano também
chegou ao sul da Rússia, hoje dividido em repúblicas autônomas no Cáucaso
(Kalmykia) e na Sibéria (Buryatia e Tuva). Um sinônimo para Vajrayana é Mantra Secreto
(sânsc. Guhyamantra). "Secreto" refere-se ao fato de que sua própria
natureza é um segredo para a mente confusa. O fato de que a realização pode
ser alcançada dentro de alguns anos ou dentro desta mesma vida está
inteiramente conectado com a realização desta natureza da mente e isto
requer confiança e devoção. (Da introdução de Chökyi Nyima
Rinpoche em The Dzogchen Primer) O Budismo Esotérico nos diz que a natureza da
mente de todos os seres está coberta por dois obscurecimentos. Um é chamado
"obscurecimento emocional" — desejo, raiva e ignorância. O segundo, o
"obscurecimento cognitivo", é o apego sutil ao sujeito, objeto e interação,
no qual o estado desperto desvia-se em apego dualista. Estes dois tipos de
obscurecimento precisam ser dissolvidos e purificados. Isto é realizado
reunindo-se as duas acumulações — a acumulação de mérito e a acumulação de
sabedoria, o treinamento no despertar original. Reunido as duas acumulações,
desvelamos os dois tipos de conhecimento supremo — o conhecimento que
percebe o que quer que possivelmente exista e o conhecimento que percebe a
natureza como ela é. Desvelando os dois tipos de conhecimento supremo,
realizamos os dois kayas, dharmakaya e rupakaya. Rupakaya significa "corpo
da forma" e tem dois aspectos: sambhogakaya, que é a forma da luz de
arco-íris, e nirmanakaya, que pode tomar a forma física. (Tulku Urgyen
Rinpoche, As It Is - Volume II) As escolas do Budismo Esotérico costumam tomar o
Samdhinirmochana Sutra como base para classificar os ensinamentos
buddhistas em três "ciclos" ou "giros da roda do Dharma". De acordo com as escrituras Mahayana, podemos
entender os ensinamentos e Buda em termos do que são conhecidos como os
"três giros da roda do Dharma". O primeiro giro da roda foi em Sarnath,
próximo a Varanasi, e foi o primeiro sermão público que o Buddha deu. O
assunto principal deste ensinamento foi as Quatro Nobres Verdades, no qual o
Buda estabeleceu a estrutura básica de todo o Buddhadharma e do caminho para
a iluminação. O segundo giro da roda do Dharma foi no Pico dos
Abutres [sânsc. Gridhakuta], próximo a Rajgir, atualmente em Bihar.
Os principais ensinamentos apresentados aqui foram os da perfeição da
sabedoria. Nestes sutras, o Buddha elaborou a terceira nobre verdade, a
verdade da cessação. Os ensinamentos perfeição da sabedoria são críticos
para entender completamente o ensinamento do Buddha sobre a verdade da
cessação, particularmente para reconhecer totalmente a pureza básica da
mente e a possibilidade de limpá-la de todos os poluentes. O assunto
explícito dos Sutras da Perfeição da Sabedoria (sânsc. Prajnaparamita
Sutras) é a doutrina da vacuidade. Então, como a base para os
ensinamentos da vacuidade, estes sutras apresentam todo o caminho no que é
conhecido como o assunto oculto ou escondido dos Sutras da Perfeição da
Sabedoria, que é elaborado de modo bem claro e sistemático do Ornamento da
Realização Clara (sânsc. Abhisamayalamkara) de Maitreya. O terceiro giro da roda do Dharma é uma coleção
de sutras ensinados em diferentes tempos e lugares. Os principais sutras
desta categoria de ensinamentos são o material fonte para o Uttaratantra
de Maitreya. Não apenas apresentam a vacuidade ensinada no segundo giro da
roda, mas também apresentam a qualidade da experiência subjetiva. Apesar de
estes sutras não falarem sobre a experiência subjetiva em termos das
sutilezas de níveis, eles apresentam a qualidade subjetiva da sabedoria e os
níveis através dos quais podemos melhorá-la e são conhecidos como Sutras da
Essência ou Núcleo do Estado Búddhico (sânsc. Tathagatagarbha Sutras).
Entre os escritos de Nagarjuna, há uma coleção de hinos junto com uma
coleção do que poderia ser chamado de corpo analítico, como seus Fundamentos
do Caminho do Meio [sânsc. Mulamadhyamakakarika]. O corpo analítico
lida diretamente com os ensinamentos da vacuidade conforme ensinados nos
Sutras da Perfeição da Sabedoria, enquanto os hinos relacionam-se com os
Tathagatagarbha Sutras. (Dalai Lama,
Illuminating the Path to Enlightenment) Às vezes o Hinayana, o Mahayana e o Vajrayana são
contados como três veículos distintos:
Outros autores contam apenas dois veículos
principais — Hinayana e Mahayana —, sendo o Vajrayana considerado uma parte
do Mahayana:
As origens históricas do Budismo Esotérico são
bastante obscuras. No século II, vários textos do budismo Mahayana já
continham preces curtas chamadas mantras, assim como preces longas
chamadas dharanis. Os mantras e dharanis são compostos por seqüências
de sílabas que, apesar de não necessariamente terem um significado, são
considerados extremamente poderosos. Estas preces devem ter sido precursoras da
recitação de
mantras no budmo Vajrayana, influenciado pelos fundamentos filosóficos
da escola hindu Mimamsa. As práticas devocionais, a recitação de sutras e a
invocação dos nomes de budas e bodhisattvas já era bastante comum no budismo
Mahayana, assim como as práticas de visualização de buddhas e bodhisattvas
em suas terras puras. [O]s antigos mahasanghikas tinham em seu cânone
uma coleção especial de fórmulas mântricas chamada Dharani Pitaka ou
Vidyadhara Pitaka. Os dharanis eram meios de fixar a mente
sobre uma ideia ou pensamento, uma visão ou experiência obtida na meditação.
Estes podem representar a quintessência de um ensinamento, assim como a
experiência de determinados estados de consciência, que desta forma podem
ser relembrados ou recriados deliberadamente a qualquer momento. Por isso
também são chamados de suportes, receptáculos ou berços da sabedoria (sânsc.
vidyadhara). Não são funcionalmente diferentes dos mantras, mas em
certo grau nas suas formas, já que podem atingir uma extensão considerável e
algumas vezes representam a combinação de vários mantras ou sílabas sementes
(sânsc. bija-mantra), ou a quintessência de um texto sagrado. Eles
eram tanto um produto quanto meio de meditação: "Através da meditação
profunda (sânsc. samadhi), adquire-se uma verdade; através do
dharani, ela é fixada e retida na memória". [...] Nos textos páli mais
antigos [da tradição Theravada], encontramos mantras de proteção ou
parittas para afastar perigos, doenças, cobras, espíritos, influências
nefastas e outras, assim como criar condições benéficas como saúde,
felicidade, paz, um renascimento feliz, riqueza e assim por diante. (Lama Anagarika
Govinda, Foundations of Tibetan Mysticism) A evolução gradual do Vajrayana na Índia pode ser
dividia em três fases. A primeira desenvolveu-se na Índia mas não se
espalhou para outros países. Na segunda fase, por volta do século III, os
textos mais antigos do Vajrayana indiano foram levados para a China e
traduzidos por eruditos. Os textos não causaram grandes mudanças na
comunidade buddhista chinesa, mas a tradição buddhista esotérica acabou
criando raízes na China. Houve contatos com o Japão durante a dinastia Nara,
mas esta tradição só se estabeleceu lá durante o período Heian, graças aos
monges japoneses Saichô e Kûkai. Na época em que eles estiveram na China,
durante a dinastia T'ang, os textos do Anuttara-yoga-tantra —
marcados pela simbologia de de divindades em união sexual — ainda não
estavam presentes na China e portanto não foram levados ao Japão. Na terceira fase, por volta dos séculos VI e X,
os ensinamentos orais do Vajrayana indiano foram registrados nos Tantras,
escrituras esotéricas sobre a transformação da mente através de meditações,
visualizações e cerimônias. Nesta época, os complexos textos do
Anuttara-yoga-tantra, foram levados ao Tibet e mais tarde à Mongólia. Na
dinastia mongol Yuan, estes textos chegaram à China, e na dinastia Chin,
chegaram à Manchúria. Os textos do Anuttara-yoga-tantra foram
traduzidos para o chinês apenas na dinastia Song. Entretanto, não causaram
impacto porque não havia mestres destas linhagens na China e porque as
traduções tinham sido muito editadas. A terminologia sexual e imagens de
divindades em união não seriam bem aceitas pela conservadora sociedade
confucionista da China. Estas traduções chinesas chegaram ao Japão mas,
como não havia mestres destes textos e como o Budismo Esotérico já estava
bem estabelecido pelas escolas Shingon e Tendai, estes tantras acabaram
sendo deixados em segundo plano. Durante a dinastia T'ang, o budismo
esotérico chinês já tinha praticamente desaparecido na China como um
movimento organizado e distinto. De certa forma, o ramo chinês foi cortado
do budismo esotérico japonês, que passou a se desenvolver de forma
independente. Durante o século VIII, a dinastia Pala assumiu o
poder no noroeste da Índia e ajudou a propagar o Budismo Esotérico nessa
região. As grandes universidades monásticas de Vikramashila e Odantapura
transformaram-se nos centros de difusão dos ensinamentos tântricos entre os
monges indianos. Entre os séculos IX e XII, apareceram os mahasiddhas,
mestres tântricos com poderes sobrenaturais (sânsc. siddhi), que
viviam fora dos moldes da cultura monástica Mahayana. Biografias
tradicionais relatam a vida de 84 mahasiddhas, homens e mulheres de diversas
classes sociais que atingiram altos níveis de realização de maneira pouco
convencional. As canções dos mahasiddhas, ou dohas, ilustram suas
experiências espirituais. O yogi que realizou a não-existência do eu
demonstra esta realização pelo benefício dos seres através de uma conduta
escolhida ao invés de ensinamentos. Exemplos desta "conduta livre de todas
as emoções negativas e ilusórias" (tib. tülshug / brtul shugs) são
encontradas nas biografias dos "santos loucos" tibetanos como Drugpa Künleg.
[...] E ainda assim estes yogis, como seu comportamento incompreensível à
mente comum, são realmente vazios de emoções como o desejo, o apego ou o
ódio, assim como uma máscara irada representa a raiva sem que ela mesma seja
raivosa, ou do mesmo modo que um peixe não tem concepções nem apego à água
na qual se move livremente. Apesar de parecer manifestar raiva ou desejo, o
yogi não está pessoalmente associado com esta emoção: veja o grande mestre
do Kham que insultava e batia naqueles que iam visitá-lo, jogava no chão
toda a comida que lhe ofereciam e finalmente afugentava os visitantes
jogando pedras neles! Por um lado este comportamento louco era simplesmente
um meio hábil de se livrar de intrusos e de se concentrar totalmente em sua
meditação — em todo o tempo nunca houve raiva ou insulto em sua mente. Por
outro lado, por este tipo de comportamento o yogi elimina, para as outras
pessoas, os obstáculos como demônios, forças negativas e outros males, e
estando livre do desejo ou da preocupação por seu próprio bem-estar, ele
realiza a perfeição da sabedoria. [...] (Jérôme Edou,
Machig Labdrön and the Foundations of Chöd) Os milagres realizados por muitos dos
[maha]siddhas são ou símbolos de realização espiritual ou resumos sumários
de seus ensinamentos, ainda que estes também fossem por vezes apresentados
em tratados curtos ou mais longos. Perdeu-se muito do que os siddhas
assentaram por escrito. Só o que foi guardado em Apabhramsa ou em traduções
tibetanas está conservado. Os siddhas foram os primeiros a escrever na
língua do povo de sua época, em vez de fazê-lo em sânscrito, que só era
compreensível para os eruditos ou para o clero. Tornaram-se com isso os pais
de uma linguagem escrita popular da qual se desenvolveram posteriormente,
entre outros, o atual hindi e o bengali. Assim, seu trabalho teve um extenso
significado e talvez um dia sejam redescobertos na antiga literatura bengali
outros siddhas. (Lama Anagarika Govinda,
Reflexões Budistas) [U]m dos fatores responsáveis pela degeneração do
Budismo Tântrico na Índia foi a proliferação de práticas tântricas ocorrida
em um determinado período passado. É claro que se a prática tântrica não
tiver a base e os pré-requisitos fundamentais, as técnicas e a meditação do
tantrismo podem se revelar mais nocivas do que benéficas. É por isso que as
práticas tântricas são chamadas "Dharma secreto" ou "modo de vida secreto". Ler obras espirituais nos faz evoluir espiritualmente. Leia nossos textos para sua evolução espiritual, eles são espirituais, ou uma sugestão de luz: leia um texto nosso semanalmente. Conheça o texto: Como Evoluir Espiritualmente . |