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O Significado da Sangha no Budismo Esotérico

Para liberar a
nós mesmos e aos outros dos ciclos de sofrimento, temos de contar com alguém
que já tenha atingido a liberação. É por isto que tomamos o Buda como nosso
guia. Ele é como um cartógrafo que viajou ao lugar aonde queremos ir e que
nos mostrou como alcançar nosso destino. O Dharma, os ensinamentos de Buda
sobre como chegar lá, é o mapa. Aqueles que mantiveram estes ensinamentos em
uma linhagem inquebrantável, a Sangha, são os nossos companheiros nesta
jornada. Eles nos apóiam conforme viajamos, nos protegendo e nos impedindo
de ir para o caminho errado. Nossos amigos na Sangha facilitam nossa conexão
com o Dharma e com nossa prática até que atinjamos a iluminação.
As
bênçãos do Buda surgem deste atingimento dos três kayas, os três aspectos da
mente iluminada; as bênçãos do Dharma surgem do poder da verdade incessante;
e as bênçãos da Sangha estão na intenção pura e unidirecionada dos membros
conforme eles caminham juntos pelo caminho.
A palavra tibetana para
Sangha é Gedün. A primeira sílaba refere-se ao que é virtuoso ou
positivo; a segunda refere-se a "aspirar a" ou "esforçar-se por". Então, os
membros da Sangha são amantes da virtude que empreendem e mantêm ações
positivas, que tentam transformar seus hábitos ruins, purificar sua
negatividade e aumentar seus atos virtuosos — mentalmente, verbalmente e
fisicamente — a fim de beneficiar os outros.
Nós na Sangha não somos
perfeitos; se fôssemos, não haveria necessidade de seguirmos um caminho
espiritual. Como todos nós precisamos de ajuda, andamos na mesma direção. A
base para a Sangha é que cada um de nós faça a decisão de seguir o caminho
do Buddhadharma e de se engajar no caminho unidirecionadamente, até que
alcancemos a meta compartilhada da iluminação. Ao escalarmos uma montanha,
podemos ir através de diferentes caminhos até o topo. Se começarmos em um
caminho e decidirmos que ele não é tão grande, e então começarmos outro de
novo e decidirmos que um caminho diferente seria melhor, não faremos
qualquer progresso. Para alcançar o topo, precisamos encontrar o caminho que
seja melhor para cada um de nós, mas a coisa mais importante é que
prossigamos passo a passo e que não fiquemos mudando de caminho.
Reconhecendo que o samsara é tão ilusório quanto um sonho, e que aqueles que
não realizaram que estão sonhando sofrem por causa de sua crença na solidez
de sua experiência, fazemos surgir a grande compaixão e a aspiração de
ajudar os outros a despertar. Mas para fazer isto, primeiro temos de
despertar a nós mesmos — temos de alcançar o topo da montanha — e então
empreendemos a prática espiritual.
Para desenvolver rapidamente a
capacidade de liberar os outros, praticamos o caminho curto do Vajrayana.
Através da iniciação na mandala do mestre-vajra, somos introduzidos à
natureza pura das aparências fenomenais e assumimos os mesmos compromissos e
metas do mestre-vajra. Aqueles que receberam esta introdução, e que praticam
a transformação de percepções confusas ordinárias ao manterem o
reconhecimento dessa natureza pura, são membros da Sangha do Vajrayana.
Através dessa meditação, podemos alcançar rapidamente o pico mais elevado.
A Sangha como Base de Treinamento
A Sangha corporifica duas qualidades que são
verdadeiramente confiáveis. A primeira, o reconhecimento direto da natureza
absoluta da mente, faz surgir a segunda, a liberação da delusão, da confusão
e dos três venenos da mente — as causas-raiz do sofrimento. Aqueles que
possuem estas qualidades, e que compreendem e mantêm os votos de refúgio,
percebem e participam na vida de um modo que não é de qualquer modo
ordinário. Como verdadeiros membros da Sangha, eles são dedicados a se
refrear do dano e a ajudar os outros de qualquer modo que puderem. Podemos
contar com eles como exemplos, assim como por liderança e orientação.
Nós
na Sangha precisamos estar conscientes de que os outros nos olharão como
ajudantes e modelos, observando como exemplificamos o Dharma em nossas
vidas. Nunca devemos nos comportar de um modo que possa levar alguém a se
perder. Devemos desenvolver fé, devoção, respeito, amizade e suporte entre
nós mesmos na Sangha imediata ou interna, assim como com todos os outros na
Sangha maior — que inclui os praticantes da tradição budista em todo o mundo
e especificamente com aqueles das quatro escolas do Budismo Esotérico que
tomaram os votos de refúgio e bodhichitta. Independente de qual tradição
budista sigamos, nós recebemos as bênçãos das Três Jóias — Buda, Dharma e
Sangha — através de qualquer professor espiritual que carregue puramente a
linhagem inquebrantável dos ensinamentos, de S.S. o Dalai Lama — a
manifestação de Avalokiteshvara, o bodhisattva da compaixão em forma humana
— a muitas outras emanações de seres iluminados.
Mandala de Avalokiteshvara é essa a do lado, para
fazer a prática com ela Clique nela e veja as instruções. É facil e
desenvolve o autoconhecimento.
Antes de atingir o parinirvana, o Buda
profetizou que em tempos degenerados ele se manifestaria como amigos e
professores espirituais. Até mesmo se prostrar na direção dos ossos
enterrados de alguém de quem recebemos quatro linhas de ensinamentos do
Dharma produz um mérito imensurável. Por outro lado, ver ou insistir nas
faltas dos membros da Sangha é diminuir não apenas nosso voto de refúgio,
mas também nosso voto de bodhisattva. Perder nossa visão pura da Sangha
interna é quebrar um nível de compromisso ainda mais profundo — o do Budismo
Esotérico.
O que podemos fazer para sustentar uma Sangha forte?
Primeiro, temos de entender que praticar o Dharma significa corrigir nossas
próprias faltas, mudar nossas próprias mentes. Como seres humanos, todos nós
temos falhas. Assim como as irmãs e irmãos de uma grande família têm de
aprender como lidar uns com os outros, nós também temos de aprender como
ajudar e apoiar um ao outro na Sangha. Se estivéssemos segurando nossas mãos
para ajudarmos um ao outro a atravessar um rio, e se então uma pessoa
afundasse, não o deixaríamos lá; iríamos puxá-lo e só então continuaríamos.
Simplesmente ouvir os ensinamento do Dharma não é suficiente para nos
transformarmos completamente. Os ensinamentos têm de ser implementados, e
começamos aumentando nossa compaixão. Se alguém na Sangha for rude conosco,
ao invés de respondermos do nosso modo habitual — sendo raivosos,
sarcásticos, danosos ou mantendo rancor —, nós praticamos a compaixão. Como
praticantes do Dharma, trazemos nosso entendimento do karma para suportarmos
situações difíceis, reconhecendo que alguém que perturba os outros está
criando não-virtude. Ao invés de sermos críticos, tentamos ajudar e deste
modo criamos virtude. E quando cometermos erros, purificamos o karma que
criamos.
Há horas em que ficamos perturbados ou irritados. Às vezes,
nosso corpo está cheio de coisas. Às vezes, nossas energias sutis estão fora
de equilíbrio e nossa mente está agitada. Às vezes, apenas acordamos do lado
errado da cama. Precisamos reconhecer que este turbilhão emocional não é
permanente, que isso passará, como as nuvens no céu — e então pacientemente
deixe isso ir. Não devemos adicionar combustível ao fogo. Se uma pessoa
irritante disser algo aborrecedor, devemos permanecer pacientes e manter o
respeito. Não devemos prolongar ou nem mesmo tentar corrigir a situação, e
ao invés disso devemos esperar a pessoa se acalmar e então tentar conversar
sobre essas coisas. Sempre precisamos focalizar sobre como podemos ajudar os
outros, não sobre como podemos beneficiar a nós mesmos.
Quando a
raiva surge, a melhor coisa a fazer é jogá-la fora. Mas se não pudermos,
permanecemos pacientes e ela eventualmente se dissolverá. Como os membros da
Sangha não se agarram à raiva durante meses ou anos, eles não infligem em
relacionamentos o tipo de dano que o ressentimento pode causar. Se de novo e
de novo tentarmos desenvolver amor, preocupação e paciência, vagarosamente
faremos progresso em nossa prática. Como os grãos de cevada em um saco,
cujas cascas caem conforme os grãos se esfregam, os membros da Sangha
trabalhando juntos podem limpar rapidamente os venenos e obscurecimentos de
suas mentes, e cada um pode contribuir para o aprendizado e crescimento dos
outros.
O mundo não mudará para nós. Desde o início de nossa jornada
no caminho do Dharma, realizamos que o que deve ser mudado é a nossa própria
mente — a mente é a arena para o treinamento. Reconhecemos que nada no
samsara ou no nirvana está fora da mente; tudo está enraizado nela. Nossas
interações com a Sangha servem como um espelho que reflete nossa mente para
nós, de modo que podemos usar os métodos do Dharma para nos corrigirmos. Se
nos descobrirmos respondendo a situações irritantes de um modo ordinário,
perguntamos, "Por que reajo deste modo? Por que me mantenho sobre estas
coisas?" Transformando os venenos mentais assim que surgirem, aprendemos a
lidar mais efetivamente com nossas circunstâncias imediatas e a avivar
nossas metas espirituais.
No começo, a Sangha é como uma coleção de
objetos sagrados, como estátuas, em uma sacola: eles inevitavelmente tinem
uns com os outros. Mas se as pessoas que tentam criar algo de benefício
estiverem em divergência uns com os outros, a negatividade e a desarmonia
cortam suas aspirações espirituais. Por outro lado, se tratarmos uns aos
outros com paciência, respeito, amor e compaixão, estas qualidades se
irradiam e beneficiam a todos ao seu redor. Quando forem para suas
atividades no mundo, onde há menos suporte para a prática espiritual, eles
terão hábitos bem estabelecidos de paciência e bondade. Eles não os perderão
em situações estressantes. Deste modo, a Sangha fornece um solo de
treinamento para aplicarmos o Dharma em larga escala no mundo, que é a
verdadeira arena para a nossa prática.
Os Benefícios da Sangha
Aqueles que abraçam os ensinamentos do Buda são os
filhos da fala de Buda, e aqueles que obtêm o reconhecimento da verdadeira
natureza da mente são os filhos da mente de Buda. Uma vez que tenhamos
tomado refúgio, recebido os ensinamentos budistas e embarcado no caminho,
nossa situação não é mais ordinária; algo mudou. Um inseto preso em uma
garrafa de leite, voando e voando desesperançada e desamparadamente,
eventualmente encontrará sua saída se houver um único orifício na garrafa.
Ao tomarmos refúgio, ouvirmos os ensinamentos e treinarmos a mente, fazemos
um furo na existência cíclica. Eventualmente escaparemos. Para os
praticantes budistas, o samsara não é infinito.
Tomar o voto de
refúgio nos fornece uma entrada na Sangha, mas nossa permanência lá depende
de nós mantermos seu objetivo espiritual. Se tomarmos refúgio mas não
abraçarmos realmente os ideais da Sangha, seremos como alguém que esconde
algo estragado sob o carpete e então cheira em qualquer outro lugar,
insinuando que aquele odor é problema de alguma outra pessoa. Mas são a
nossa própria esperança, medo e auto-importância — e não os de qualquer
outra pessoa — que causam o odor rançoso.
Como praticantes
principiantes, somos como crianças agarrando a saia de sua mãe. Encontramos
um suporte tremendo naqueles praticantes que reconhecem a natureza da mente.
São às qualidades desses membros da Sangha que aspiramos e mantemos. Se os
observarmos, podemos ver como controlar nossa mente, como corrigir nossa
fala e como nos conduzirmos. Se virmos alguém recitando mantras, nos
lembramos de praticar a fim de ajudar todos os seres. Se virmos alguém
ajudando uma outra pessoa, meditando ou trabalhando muito além de seus
limites, nós a emulamos. Se estivermos sempre conscientes das qualidades
positivas dos companheiros de nossa Sangha e seguirmos o seu exemplo, se ao
mesmo tempo tomarmos conhecimento de nossas próprias faltas e defeitos, e se
trabalharmos para reduzi-las, nossa prática melhorará.
Como
espiritualmente ainda somos crianças, as pernas de nossa prática são
extremamente cambaleantes. Apesar de as crianças olharem para os adultos
andando e pensarem que podem fazer isso também, elas muitas vezes tropeçam e
caem. Isso os ajuda a agarrar em uma mão que é mais segura que as suas.
Muitas vezes, algo que um amigo da Sangha diz nos impedirá de fraquejarmos
em nossa prática — ir a uma direção errada ou descer a um grande desvio. Um
único comentário pode ajudar a nos estabilizarmos e a restabelecermos nossa
motivação.
Controlando nossa mente, mantendo a integridade moral e
sendo cuidadosos, consistentes e diligentes, obtemos o respeito de outros
membros da Sangha. Mas devemos tomar cuidado para não desenvolvermos orgulho
por sermos parte da Sangha. Ao invés disso, devemos nos lembrar de que
estamos no mesmo caminho com a Sangha porque não somos iluminados. Temos
venenos mentais para purificar, o que requer prática e verificar
constantemente nossas ações do corpo, fala e mente: estamos reduzindo a
não-virtude a aumentando a virtude?
Um dos benefícios de fazer
prática com os membros da Sangha é a multiplicação de méritos produzida pelo
esforço em grupo. Por exemplo, se uma pessoa canta cem repetições de mantra,
ele ou ela acumulará o mérito de cem recitações. Mas se dez pessoas recitam
cem mantras juntos, cada um acumulará o mérito de cantar mil mantras.
Além disso, assim como um esforço conjunto é realizado mais rapidamente
e melhor se alguém com as habilidades necessárias estiver envolvido, ou
assim como uma carga é carregada com maior facilidade se um membro do grupo
for mais forte que os outros, a prática espiritual é melhorada pela presença
de praticantes avançados. O Buda disse que a um a cada quatro membros da
Sangha é uma encarnação de um bodhisattva. A motivação pura, a intenção e as
qualidades de um bodhisattva aumentam a virtude criada pelos outros
praticantes. É por isso que, tradicionalmente, a Sangha pratica junta.
O benefício da atividade da Sangha em grupo surge não apenas de nos
sentarmos em almofadas de meditação, mas a partir de tudo o mais que
fizermos — enquanto não estivermos auto-focalizados, mas sim cortando
completamente o auto-agarramento ao trabalhar pelo benefício dos outros.
Imbuindo cada ação com a motivação pura, superamos o auto-objetivo. Nosso
compromisso é continuar a praticar deste modo até que todo o samsara seja
esvaziado.
Todos nós na Sangha temos a grande fortuna de estarmos sob
a proteção das Três Jóias. Temos as iniciações e ensinamentos do Vajrayana e
os métodos de prática que revelam a natureza da mente. Nunca devemos
considerar a Sangha como um grupo casual de amigos, mas sim manter cada
praticante em grande estima. Cada minuto juntos é uma oportunidade preciosa
e deve ser uma grande fonte e alegria. Conforme praticamos, treinando e
re-treinando o corpo, a fala e a mente, permanecemos muito próximos um dos
outros, sem barreiras. Assim, não apenas colhemos os benefícios do suporte
da Sangha, mas também contribuímos para esse suporte. Vamos juntos nesta
vida e nos encontraremos novamente em vidas futuras. Até a iluminação, esta
mandala nunca se separará.
Tendo gerado a motivação pura e tendo
tomado a prática formal e a atividade do Dharma com a Sangha, dedicamos
nossa mérito não apenas aos os membros próximos da Sangha, mas a todos os
seres sencientes. Antes de tudo, dedicamos nossa prática como uma única
mandala e nossas atividades do corpo, fala e mente à remoção de obstáculos à
vida em si, com a aspiração de que a vida de ninguém seja encurtada nem
mesmo por um único dia. Para um praticante, cada dia tem o potencial para a
prática e para um atingimento maior. Além disso, dedicamos nosso mérito com
a aspiração de que todos os seres sencientes terão a maior saúde e bem-estar
possíveis, que o amor e a compaixão surgirão completamente para eles, e que
serão capazes de praticar os métodos do Budismo Esotérico e de atingir a
realização completa da verdade absoluta. Deste modo, podemos servir à Sangha
em um nível interior, assim como através de nossa motivação pura, preces e
dedicação.
Este livreto foi produzido a partir de transcrições de
vários ensinamentos dados por S.E. Chagdud Tulku Rinpoche em centros do
Chagdud Gonpa Foundation na América do Norte. Possam todos os seres se
beneficiar!
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