MESTRE ECKHART

Por: Carlos Antonio Fragoso Guimar�es

Breve introdu��o para este texto em: Misticismo, o que �?

Embora a Igreja patriarcal de Roma tendesse a impor uma atmosfera intelectual r�gidamente controlada conforme seus objetivos e interesses temporais, a presen�a da filosofia espiritualista de Plat�o e dos Neoplat�nicos nunca foi totalmente suprimida, durante a Idade M�dia. Mesmo quando o interesse por Arist�teles tornou-se a primazia, no s�culo XIII, o neoplatonismo ainda era estudado, sobretudo na Alemanha, pa�s que sempre se destacou por sua luta pela liberdade intelectual, e, mais tarde, com Lutero, pela espiritual. Isso explica o fato de que os estudiosos dominicanos da cidade de Col�nia e de outros centros renananos, onde tamb�m vivera Hildegard von Bingen, haverem constru�do uma ambiente particularmente favor�vel a um segundo renascimento do neoplatonismo, caraceterizado por uma intensa acentua��o m�stica. At� mesmo entre os padres da escol�stica medieval, que mergulhava cada vez mais o mundo num universo cheio de dogmas superficiais, havia um certa saudade de uma pureza m�stica, pois o que � essencial � o retorno da alma a Deus, a sua uni�o com Deus.

Foi neste ambiente prop�cio, talvez n�o por acaso, que surgiu o mestre dominicano Eckhart, um dos maiores lumiares da filosofia medieval e do misticimo do ocidente, e sobre quem falaremos agora.

Mestre Eckhart nasceu em Hochheim, na Tur�ngia, em 1260. Ingressando no convento dos dominicanos de Erfurt, estudou em Estrasburgo e em Col�nia. Tornou-se mestre em Teologia e ensinou em Paris entre 1302 e 1304. Exerceu v�rios cargos eclesi�sticos na Alemanha. Estabeleceu-se definitivamente em Col�nia em 1320. Escreveu v�rias obras, entre elas Prega��es e Tratados. Em sua obra est� muito presente a unidade entre Deus e o homem, entre o que consideramos sobrenatural e o que achamos ser natural. � um pensamento hol�stico, pois. Como afirmava Plotino, Eckhart tamb�m acreditava que sem um algo, a que chamamos Deus, o homem e o mundo n�o teriam nenhum sentido e nada seriam. Alguma "coisa" tem de dar sentido a tudo o que existe. Tudo tem de ter uma raz�o de ser. Na verdade, n�o existe um mal absoluto, existe t�o s� o erro na busca da evolu��o da alma. Tudo est� imerso numa Unidade. A Unidade � din�mica e � diversidade, assim como as sete cores s�o o arco-�ris. Somos frutos, mas os frutos nascem de uma �rvore, e o fruto carrega a �rvore. Assim, somos filhos de Deus, mas tamb�m somos Deus. E assim tudo rearfirma a Unidade. E tal � o poder que temos, que o mundo sempre ser� para n�s aquilo que dele pensarmos. Mas o Deus "que est� em todas as criaturas � o mesmo que est� acima delas, pois aquilo que � Uno deve ser mais que a mera soma das coisas". Isto � um bel�ssmo exemplo do que hoje entendemos por pensamento hol�stico.

Bom, se tudo existe por que uma causa os fez existir, qualquer que seja o nome que dermos a esta causa, ela estar� acima do fruto que dela veio. Bom, se considerarmos que tudo o que existe existe por obra do Ser Divino, isso significa que temos uma raz�o de existir, pois o Supremo n�o faria nada de in�til. Sendo assim, Ele ter� necessaramente de amar a seus frutos. Por isto existe uma Unidade entre Deus e o homem. E � por essa raz�o que o homem sente-se atra�do e tenta voltar a Deus, pois � na Uni�o que h� sentido, sem que haja anula��o. Para isso, para poder ir de encontro a Deus, o homem deve ser livre: "Livre esp�rito � aquele que n�o se preocupa com nada e a nada se liga" (isso lembra a mensagem budista do desapego), "j� que se aprofunda na amant�ssima vontade de Deus". E quem tem Deus, ou seja, quem o encontra em si mesmo "o tem em todos os lugares, nas ruas e entre as pessoas, da mesma forma que na Igreja, na solid�o ou na cela". Se ele O encontrou realmente, encontou a p�rola de grande valor, e far� de tudo para mante-la consigo. Se ele a possui verdadeiramente, ningu�m que n�o a possua tamb�m poder� perturba-lo. E se o tem, exatamente por tamb�m a ter, n�o ir� perturba-lo. Assim, para Eckhart, por que n�o nos abandonarmos em Deus? Jesus n�o disse que "as aves do c�u n�o amontoam em celeiros, nem cultivam, mas mesmo assim o Pai do C�u n�o as alimenta? N�o s�is v�is mais que as aves?"

Devemos reconhecer Deus em n�s, mas este caminho n�o � f�cil. O homem deve se "exercitar nas obras, que s�o seus frutos", mas, ao mesmo tempo, "deve aprender a ser livre mesmo em meio �s nossas obras".

Eckhart morreu em 1327. Em 27 mar�o de 1329, mais uma vez a infalibilidade papal se fez presente onde n�o compreende o transcendente. Neste dia foi dado ao p�blico a bula In agro dominico, atrav�s do qual o Papa Jo�o XXII condenou vinte e oito proposi��es do Mestre Eckhart. Das vinte e oito, dezessete foram consideradas her�ticas e onze consideradas escabrosas e temer�rias. Entre estas, estava a de que nos transformamos em Deus. Mas esta condena��o papal justifica-se na medida que as id�ias de Eckhart tinham uma dimens�o revolucion�ria. Elas foram acolhidas pelas camadas populares e burguesas, que interpretavam o apelo eckhartiano � interioridade da f� e � uni�o divina como uma rebeli�o impl�cita � exterioridade "faris�ica" de uma hierarquia e de um clero moralmente decadente (parece que a coisa nunca mudou muito mesmo). Sua heran�a influenciou, entre outros, significativamente, a Martinho Lutero.

Outros grandes e famosos m�sticos da Idade M�dia e do Renascimento foram: Francisco de Assis, Juan de La Cruz, Tereza D'�vila, e, talvez a mais sofrida, Joana D'Arc. As teorias reducionistas e mecanicistas da Psiquiatria e da Psican�lise n�o explicam o trabalho, o carisma e a ernorme influ�ncia que estas figuras exerceram na hist�ria da humanidade. Nelas, algo de muito especial ocorreu, e n�o ser� por querermos que o universo seja da forma como achamos que ele deva ser que o brilho de suas vidas possam ser manchados com nossas tolas teorias racionais.

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