Como Atingir o Samadhi
O melhor modo para atingir o samadhi [absorção meditativa] é
aprendê-lo através da prática da meditação sentada. Depois de termos
praticado suficientemente a meditação sentada por um longo de período de
tempo, descobriremos que somos capazes de entrar em samadhi quando
caminharmos nas florestas, ao lado de um rio na montanha ou no meio de uma
campina. Logo após este estado ser atingido, descobriremos que somos capazes
de entrar em samadhi até mesmo em uma rua agitada no meio de uma cidade
barulhenta. Os estados de samadhi podem ser frágeis no começo, mas com a
prática tornam-se muito fortes.
No início, devemos aprender como
entrar em samadhi em uma sala quieta com poucas distrações. A luz deve ser
reduzida mas a sala não deve estar escura, pois a escuridão pode induzir ao
sono. É bom ter um altar ao Buda em sua sala de meditação e é bom curvar-se
diante do Buda e acender incenso antes de começar a meditar. Junte seus
pensamentos enquanto acende o incenso e focalize sua atenção sobre o Buda.
Seu assento não deve estar no vento ou no sol, e sua sala de meditação não
deve ser úmida. O objetivo da meditação é elevar sua consciência e não o de
fazê-lo ficar doente.
Roupas folgadas e confortáveis devem ser
vestidas para a meditação, e o estômago não deve estar cheio de comida.
Depois de comer, é melhor esperar pelo menos uma hora depois antes de
começar a meditar. Aprendendo como controlar e pacificar estas três áreas de
nosso ser, aprendemos como perceber a beleza maravilhosa do Buda que já está
dentro de nós.
A grandeza do samadhi
é como a grandeza de um rei
porque o
samadhi controla tudo.
— do Shastra Mahaprajnaparamita
Controle do corpo
Os sete aspectos do Buda Vairochana sentado são um fundamento
básico para a medição budista. Discutiremos estes sete aspectos abaixo.
1. A posição de lótus. Falando de modo geral, a posição de lótus
é a melhor posição para a meditação sentada. A posição de lótus completo é
uma posição de pernas cruzadas em que o pé descansa sobre o topo das coxas,
bem acima dos joelhos. A posição de meio-lótus é uma posição de pernas
cruzadas em que apenas um pé descansa no topo de uma coxa, enquanto o outro
pé descansa abaixo da outra coxa. A posição de lótus completo é considerada
a melhor posição para a meditação porque estabiliza o corpo muito
efetivamente. Se esta posição for desconfortável, a posição de meio-lótus
deve ser usada. Se esta posição também for desconfortável, não há problema
em meditar sentado sobre uma cadeira ou sobre um banquinho baixo designado
para meditação. A coisa mais importante sobre qualquer posição que escolha é
que suas costas estejam eretas e que não toquem qualquer coisa.
As
fontes chinesas geralmente reconhecem dois tipos de posição de lótus
completo. A posição em que o pé esquerdo é colocado sobre a coxa direita e
então o pé direito é colocado sobre a coxa esquerda é usada para obter
bênçãos e é chamada a "posição auspiciosa". Quando a ordem de colocação dos
pés sobre as coxas é invertida, a posição é usada para subjugar
demônios e é chamada a "posição de subjugar demônios".
2. Posição
das mãos. Uma vez que uma posição sentada seja adotada, as mãos devem
descansar confortavelmente no colo, com as costas de uma mão descansando
sobre a palma da outra. As pontas dos polegares devem tocar levemente uma à
outra. Esta posição é muito boa para a circulação de energias dentro do
sistema é chamada mudra do dharmadhatu.
3. Posição das
costas. Já que a espinha é o principal centro nervoso do corpo, onde as
energias das extremidades se juntam, é importante que a espinha esteja ereta
enquanto se medita. As pessoas que têm costas fracas ou que não estão
acostumadas a se sentar sem qualquer suporte podem precisar de algum tempo
para se acostumarem a se sentar deste modo. A maioria das pessoas é capaz de
se sentar corretamente sem muita prática. A espinha deve estar ereta na
meditação, mas não deve estar rígida, dura ou ereta de forma desnatural.
Acima de tudo, devemos nos sentir relaxados e confortáveis em nossa posição
de meditação. Antes de tudo, devemos desfrutar o ato físico de se sentar
para meditar.
4. Posição dos ombros e do tórax. Os ombros
devem ser mantidos confortavelmente para atrás, em uma posição que permita
que o tórax relaxe para que a respiração possa fluir suavemente.
5. Posição do pescoço e da cabeça. Tanto a cabeça quanto o pescoço devem
ser mantidos eretos. Se a cabeça se inclinar muito para frente, a circulação
através do pescoço não será a melhor. Se vistas de lado, as orelhas devem
estar alinhadas diretamente acima com os ombros. Esta posição permite que a
respiração viaje suavemente através do nariz até os pulmões e fornece uma
circulação excelente através do abdômen e da cavidade torácica. Alguma
atenção deve ser dada aos músculos atrás do pescoço. Se estes músculos
estiverem relaxados e bem alinhados, as costas inteiras geralmente cairão na
posição natural muito facilmente.
6. Posição da boca. A
mandíbula e os lábios devem estar levemente fechados. A ponta da língua deve
estar gentilmente atrás dos dentes frontais superiores.
7. Os
olhos. Os meditadores iniciantes geralmente praticarão melhor se
manterem seus olhos levemente abertos e olharem fixamente para algo a meio
ou um metro à frente. Isto ajudará a impedir a sonolência.
Estes sete
pontos são básicos para nossa postura física enquanto estivermos meditando.
Abaixo mencionarei mais oito pontos que também são importantes para atingir
uma posição de meditação confortável e efetiva.
1. Paz. Nosso
assento e nossa sala em que meditamos devem estar arrumados de um modo que
seja condutivo a sentimentos de paz e conforto.
2. Não estar
constringido. Roupas apertadas, cintos, relógios, óculos, jóias ou
qualquer outra peça que constrinja a circulação devem ser soltos ou
removidos antes de meditar.
3. O assento. Se estivermos usando
a posição de lótus ou meio-lótus, devemos nos sentar sobre uma almofada
confortável que não deslize ao redor nem mude facilmente a sua forma. Uma
boa almofada deve ser grande o suficiente para suportar as pernas e os
joelhos, e deve ter cerca de quatro dedos de grossura.
Se esta
posição não for confortável, um banquinho baixo designado para meditação
pode ser usado, assim como a ponta de uma cadeira ou a ponta de uma cama
dura. A postura é importante na meditação. Porém, como os corpos e os
hábitos das pessoas variam muito, é impossível estabelecer apenas uma ou
duas regras para sentar. Novamente, o conforto e uma espinha ereta que não
toque qualquer coisa são básicos para todas as boas posições de meditação.
4. Cobrir os joelhos. Já que a nossa circulação diminui durante a
meditação, é importante que os seus joelhos sejam mantidos quentes. Se o
tempo estiver frio, eles devem ser cobertos com um pequeno cobertor ou pano.
5. Purificar a respiração. Repita a seguinte ação três vezes:
inale através do nariz e exale através da boca. Enquanto exalar, imagine que
está exalando as toxinas e máculas do seu sistema. Tanto as suas inalações
quanto as exalações devem ser lentas e atentas. Se não se sentir relaxado
depois de fazer este exercício, repita-o.
6. Vire seu corpo
algumas vezes em ambas as direções e então se sente quietamente, sem se
mover mais. Se a sua posição não parecer correta, vire-se novamente e se
sente quietamente de novo. É muito importante se sentar enquanto estiver
meditando. Movimentos ocasionais podem ser tolerados, mas todo meditador
deve se esforçar para atingir longos períodos de tempo durante os quais não
haja qualquer movimento do corpo.
7. A face. Assim como todas
as outras partes do corpo, a face deve estar relaxada. Um sorriso bem leve,
se isto for natural, é uma boa expressão facial para meditar. A própria face
não deve ser rígida ou severa.
8. As costas não devem se
apoiar em qualquer coisa. Durante a meditação, as energias dentro do sistema
naturalmente começarão a retroceder na espinha e então subirão dentro dela.
Se as costas estiverem apoiadas em alguma coisa, este fluxo natural será
bloqueado.
As três coisas mais básicas a se lembrar sobre sua posição
de meditação são o conforto, a imobilidade e uma espinha ereta que não
esteja apoiada em qualquer coisa. A meditação deve ser agradável e assim
devemos nos fazer o tão confortáveis quanto possível. A imobilidade durante
a meditação ajuda-nos a arrear e elevar todas as energias presentes em nosso
sistema. Uma espinha ereta, que não esteja apoiada em qualquer coisa. cria o
canal para essas energias subirem em direção aos centros superiores.
O samadhi é como a água pura e clara
Pois pode limpar todas as
máculas.
— do Grande Tratado sobre a Perfeição da Sabedoria
Controle da respiração
O objetivo básico do controle da respiração é o de transformar a
respiração áspera ou pesada em em uma respiração mais lenta e refinada. Uma
vez que o corpo esteja imóvel e que a respiração esteja controlada, a mente
naturalmente se tornará mais calma. Quando falamos de "controlar" a
respiração, é importante lembrar que nós a controlamos observando-a. Se
tentar forçar sua respiração a se tornar calma, você apenas causará
problemas. A simples observação da respiração é o melhor modo de fazê-la
ficar lenta e calma. As fontes chinesas geralmente reconhecem quatro tipos
de respiração.
1. Respiração ventosa. Este tipo de respiração
faz sons nas narinas.
2. Respiração irregular. Este tipo de
respiração é quieto, mas é irregular e às vezes pára e começa.
3.
Respiração não-refinada. Este tipo de respiração é quieto e regular, mas
não é refinado. Não é tão confortável quando no quarto tipo de respiração.
4. Respiração correta. Este tipo de respiração é quieto, regular,
refinado, muito pacífico e agradável. Este tipo de respiração traz grande
paz à mente e ao coração.
Este quarto tipo de respiração é mais
rapidamente atingido simplesmente observando a respiração. Se tentar se
forçar a respirar ou a se sentir de um certo modo, você provavelmente
falhará. A paz que você cria ao seu redor na meditação continuará a crescer
com a prática. Em tempo, você descobrirá que pode atingir paz e calma
facilmente. Quando a respiração e o corpo estão pacíficos, a mente tem um
lugar do qual pode contemplar e compreender a si mesma com sucesso. Quando a
respiração e o corpo estão pacíficos, a mente pode entrar em samadhi.
A importância da respiração pode ser vista na seguinte passagem dos
Seis Ensinamentos Maravilhosos, um livro muito influente que registra um
discurso dado pelo grande monge Chih-i (538-597) no templo Wa-kuan na
presente província de Jiangsu. A data precisa deste discurso não é
conhecida.
A "porta maravilhosa do seguir" abre o caminho para os dezesseis
dharmas excepcionais. O primeiro destes dharmas é observar a inalação da
respiração. O segundo é observar a exalação da respiração. O terceiro é
observar a duração da respiração. A quarta é observar a respiração preencher
o corpo inteiro. O quinto é eliminar todos os movimentos corporais. O sexto
é absorver a felicidade na mente. O sétimo é absorver a alegria na mente. O
oitavo é absorver todas as atividades mentais na mente. O nono é criar
felicidade na mente. O décimo é unir todas as atividades da mente. O décimo
primeiro é descobrir a liberação na mente. O décimo segundo é contemplar a
impermanência. O décimo terceiro é contemplar a dispersão de todas as
coisas. O décimo quarto é contemplar o estado sem desejos. O décimo quinto é
contemplar a extinção. O décimo sexto é contemplar o não-apego perfeito.
Controle da mente
A mente não-treinada tem uma mente própria. Os meditadores muitas
vezes a comparam a um macaco bêbado que vaga através da floresta sem rumo,
sem entendimento e sem o menor auto-controle. Nossas mentes parecerem
pertencer a nós, mas assim que sentamos com a idéia de que gostaríamos de
dar uma olhada mais de perto em seus trabalhos, descobrimos que elas
realmente não nos obedecem.
O Shastra Yogacharabhumi diz que
há nove níveis diferentes de equilíbrio meditativo ou "permanência mental".
Podemos começar a aprender como controlar nossas mentes estudando estes
estágios de equilíbrio e os comparando com nossa própria meditação.
1. Permanência interiorizada. Este é o primeiro estágio. Neste
estágio, voltamos nossa atenção do exterior e a puxamos completamente para
dentro.
2. Permanência equilibrada. No começo deste estágio, a
mente é interiorizada, mas sua consciência é descontínua e aleatória.
Primeiro há um tipo de consciência, então outro e então outro. O modo de
trabalhar com este tipo de estado mental é permitir que seus pensamentos
fluam. Siga-os de momento a momento sem se tornar apegado a eles. Com a
prática, este tipo de consciência descontínua gradualmente se assenta em um
estado de serenidade pacífica onde a consciência é clara e equilibrada.
3. Permanência pacífica. Este estágio é caracterizado por uma
maravilhosa calma e paz. A chegada deste estágio é como a chegada do tempo
de outono em climas temperados. Ele não vem todo de uma vez. Quando o fim do
verão se move para o outono e o inverno, o esfriamento esfriamento gradual
da terra é manifestado aos poucos. Um mero dia ou dois de temperaturas frias
em setembro será seguido por séries de três ou quatro dias de temperaturas
ainda mais frias em outubro. Por volta de novembro, haverá temporadas frias
e em dezembro o tempo quente terá se tornado uma lembrança. Nesta metáfora,
o começo da permanência pacífica é como o começo do outono e inverno.
Primeiro reconhecemos uma pequena mudança e então, em breve, nos tornamos
acostumados a ela. Quando reconhecer o começo da permanência pacífica em sua
meditação, perceba suas qualidades e aprecie o seu aprofundamento.
4.
Permanência próxima. Nesta estágio, somos capazes de experienciar
períodos em nossa meditação durante os quais os pensamentos delusivos não
surgem. Neste estágio, também aprendemos a dizer quando os pensamentos
delusivos surgirão, antes mesmo de eles surgirem. Com esta habilidade, somos
capazes de defender nossa meditação tanto de distrações internas quanto
externas.
5. Controle. Nesta estágio, entendemos profundamente os
méritos do samadhi e compreendemos completamente que os dez aspectos são as
causas de toda delusão. Os dez aspectos são forma, som, odor, sabor, toque,
ambição, raiva, ignorância, masculinidade e feminilidade. Neste estágio,
conquistamos nossa mente e não somos mais vítimas de suas excitabilidade.
6. Grande paz. Este estágio é caracterizado pela profunda calma que
vem de entender completamente que a ambição, a raiva e a ignorância são as
fontes de toda delusão.
7. Paz suprema. Neste estágio, os
pensamentos delusivos não têm oportunidade de surgir. A mente está em um
estado completamente natural e muito livre. O que quer que venha nela, vem
nela, e o que quer que saia dela, sai simplesmente e sem deixar qualquer
resíduo.
8. Unidirecionalidade. Neste estágio, a mente está
reunida em um único ponto — descansa dentro de si mesma e está completa em
si mesma. Nada está faltando e nenhuma interrupção de consciência pode
ocorrer. Algum esforço é requerido para alcançar este estado.
9.
Equanimidade. Este estágio chega apenas depois de longa prática. Nenhum
esforço é requerido para alcançá-lo. Neste estágio, a mente entrou
totalmente em samadhi. A bondade permanece sem esforço e o mal permanece
longe sem tentar entrar.
Enquanto observar os estágios acima, é
sempre uma boa idéia perguntar a si mesmo onde a sua mente está. A mente de
Buda está além da localidade e, já que as profundezas de sua mente são a
mente de Buda, sua mente também está fundamentalmente além da localidade.
Nosso apego ao pensamento delusivo é o que nos mantém no samsara. O
mesmo apego é o que nos impede de atingir um profundo samadhi na meditação.
A delusão mais fundamental da mente é sua necessidade teimosa de se agarrar
as coisas — às idéias, conceitos, desejos, formas, emoções, pessoas etc. A
mente é como uma grande mão que sempre quer agarrar tudo que se aproxima. Os
budistas chineses usam esta necessidade da mente de se apegar a algo como
uma ferramenta para libertar a mente.
A Explicação Graduada da
Perfeição da Meditação nos ensina cinco métodos para usar esta mesma
tendência de agarrar as coisas como um meio de nos libertarmos desta
tendência. O objetivo deste métodos é emboscar o agarramento habitual da
mente em algo que o libertará da delusão.
1. Apegue a mente ao
topo da cabeça. A palavra chinesa para apego como está sendo usada aqui
é hsi, que significa "atar", "apegar" ou "ligar". Esta mesma palavra
também é usada em chinês para denotar estar atado ao samsara ou ao nosso
karma. Como usado nestas cinco práticas, hsi pode ser traduzida como
"concentrar" em português, mas uma distinção importante seria perdida.
Usamos exatamente a mesma natureza apegada da mente para fazer estes
exercícios, assim como a usamos para formar desejos ou medos de outros
apegos que nos atam a este mundo.
A Explicação Graduada da
Perfeição da Meditação nos aconselha a "apegar a mente ao topo da
cabeça" como um modo de superara a sonolência e o torpor. A mente pode ser
preguiçosa em seus apegos — sono, confusão e emoções confusas de ignorância
tateante são muitas vezes tão atrativas para ela quanto as cores e formas
brilhantes dos desejos claramente percebidos. Quando elevamos nossos apegos
inferiores ao topo da cabeça, vamos a um longo caminho em direção a superar
o que nos ata à delusão.
A Explicação Graduada da Perfeição da
Meditação previne que, em alguns casos, esta técnica pode levar a
problemas físicos associados com os ventos no corpo ou com um desejo de
voar. Se isto acontecer, esta técnica deve ser descontinuada.
2.
Apegue a mente a lugares onde o cabelo encontra o escalpo. Este é um
lugar muito bom para centrar a atenção. É fácil de sentir e a maioria das
pessoas tem bons resultados quando tenta usar esta técnica. Esta prática
muitas vezes pode levar a uma compreensão quase visionária do esqueleto
humano e da impermanência do corpo. Em alguns casos, o uso exagerado desta
técnica pode fazer os olhos fitarem para cima e perceberem nuvens
brilhantemente coloridas ou mosaicos abstratos de cor. Estas formas podem
levar a mente a ver formas ainda mais confusas e eventualmente podemos
desmaiar. Por esta razão, é importante não abusar deste tipo de meditação.
3. Apegue a mente às narinas internas. As narinas são as portas
de entrada que permitem que o ar passe para dentro e para fora do corpo. Se
direcionarmos nossa atenção para as narinas internas, nossa mente logo se
tornará perdida no ir e vir da respiração. Em breve, nenhum pensamento
surgirá. Esta técnica é muito boa para nos ajudar a perceber a impermanência
de nossos corpos e de todas as coisas. É também uma das melhores técnicas
para acalmar a mente e conduzir ao samadhi.
4. Apegue a mente ao
umbigo. O umbigo é o "oceano da respiração". É uma fonte central de
energia vital no corpo humano. Devido a esta importância, este ponto é
chamado o "palácio central" em chinês. Quando apegamos a mente ao umbigo na
meditação, fazemos o sangue e a linfa fluírem no centro do corpo. Este fluxo
tem grandes benefícios de cura e muitos tipos de doenças podem ser curados
por ele. Quando usamos esta técnica, também podemos ter uma visão das trinta
e seis partes maiores do corpo reconhecidas pelo budismo. Esta visão pode
levar a um samadhi muito profundo. As mulheres devem ser cuidadosas em não
usar esta técnica muito freqüentemente, já que pode causar sangramento
menstrual excessivo.
5. Apegue a mente à terra. Quando
focalizamos a mente sobre a área abaixo de nossas almofadas de meditação,
trazemos grande estabilidade à nossa meditação.
Deste cinco métodos,
apegar a mente às narinas internas, ao umbigo e à terra são os mais
estabilizadores e geralmente os mais efetivos. Um princípio geral que deve
nascer na mente, quando quer que estivermos meditando, é que se o corpo se
tornar extremamente leve e começar a se sentir como se estivesse flutuando
para cima, devemos baixar nosso centro de atenção. Se o corpo começar a se
sentir muito pesado, como se estivesse afundando, devemos subir nosso centro
de atenção.
Desembaraçar a si mesmo
do desejo e dos caminhos maus
requer
tanto visão quanto sabedoria.
Desembaraçar a si mesmo do mundo
e
descobrir a alegria interior
é o começo da meditação.
— do Grande
Tratado sobre a Perfeição da Sabedoria
Terminando a meditação
Assim como o processo de se preparar para meditar é importante,
assim também é o processo de se levantar da meditação. Se apenas pularmos de
nossos assentos e corrermos por aí sem uma transição adequada, podemos
perder o que obtivemos durante a meditação e podemos até mesmo nos fazer
sentir doentes.
Quando entramos em meditação, nos movemos do que é
áspero e forçado para o que é refinado e gentil. Quando terminamos a
meditação, nos movemos na direção oposta — o mundo calmo e gentil da mente
interior luminosa deve abrir caminho lentamente para os requerimentos do
movimento físico, da fala e dos pensamentos que nos carregam durante o dia.
Se nos levantarmos abruptamente depois de meditar e nos jogarmos de
volta no mundo, podemos fazer com que tenhamos uma dor de cabeça, que
desenvolvamos rigidez nas juntas ou algum outro problema físico. A
transições impensadas da meditação de volta para a consciência ordinária
pode também contribuir ao estresse emocional ou irritabilidade. Para estas
ocasiões, é importante prestar atenção aos cinco pontos seguintes quando se
levantar da meditação.
1. Mude seu foco para novas condições.
Quando decidir que é a hora de terminar sua meditação, você deve mudar sua
atenção do interior para o exterior. Conforme sua mente começar a
refocalizar sobre as sensações externas, você deve se concentrar sobre o
processo de sair da meditação.
2. Abra sua boca e exale algumas vezes.
Quando fizer isto, imagine que os últimos venenos em seu corpo estão sendo
expelidos. Sinta como todo o seu corpo participa no ato de respirar.
3. Mova seu corpo superior. Primeiro, gentilmente mova algumas vezes o
seu corpo superior para trás e para frente, enquanto ainda estiver sentado;
então, lentamente gire e mova as outras partes do seu corpo, sem forçar.
Massageie gentilmente os seus ombros, braços, mãos, pescoço e cabeça.
4. Mova suas pernas. Depois de ter feito isso, comece gentilmente a se
mover e a esticar suas pernas. Elas devem começar gradualmente a se sentir
flexíveis e seguras. Se você movê-las subitamente, elas podem começar a se
sentir duras e desconfortáveis.
5. Massageie sua pele. Gentilmente
massageie sua pele até que sinta um formigamento agradável.
6.
Massageie seus olhos. Uma vez que o seu corpo e as suas mãos tenham
começado a se sentir re-estimulados, massageie gentilmente os seus olhos até
que você sinta a circulação normal retornar a eles. Quando seus olhos se
sentirem confortáveis e prontos, abra-os.
7. Expila o calor. A
meditação muitas vezes faz a temperatura do corpo aumentar — algumas pessoas
até mesmo suam quando estão meditando. Ao se levantar da meditação, é
importante expelir este calor ou permitir que ele se estabilize. O corpo
pode estar bem sensível depois da meditação. Sensações incomuns devem ser
respeitadas e se deve permitir que o seu sistema retorne naturalmente à sua
homeostácia costumeira.
Ao nos levantarmos da meditação, às vezes é
útil refletir sobre porque meditamos. A meditação é uma técnica para acalmar
nossos pensamentos deludidos, de modo que a verdadeira sabedoria possa pelo
menos nascer. Conforme gradualmente vemos através das delusões de nossa
mente, nosso entendimento da iluminação aumenta lentamente. Conforme nosso
entendimento aumenta, nosso desejo pela iluminação também cresce. Este
desejo não é um desejo samsárico por poder ou habilidades psíquicas. É um
desejo de melhorar nossa sabedoria e compaixão. É um desejo de ser de maior
benefício para os outros seres sencientes. É um desejo de se tornar
benevolente como um buda.
A sabedoria que cresce em nós através de
nossa prática de meditação deve ser aplicada às nossas vidas no mundo real.
A meditação que não é uma fonte de sabedoria prática e socialmente benéfica
é provavelmente uma meditação mal direcionada. Hui-neng, o sexto patriarca
do budismo Zen, disse:
O que é meditação sentada? Nos removermos de todas as distrações
externas e aquietar a mente é chamado "sentar". Observar a natureza interior
em calma perfeita é chamado "meditação".
Hui-neng também disse:
Remover-se de toda forma externa é chamado "meditação" (dhyana).
Estar perfeitamente interiorizado e tranqüilo é chamado "concentração" (samadhi).
A meditação não o carregará para um outro mundo, mas revelará as
dimensões mais profundas e maravilhosas do mundo no qual você já vive.
Contemplar calmamente estas dimensões e trazê-las no serviço da compaixão e
da bondade é o caminho correto para fazer ganhos rápidos na meditação, assim
como na vida.
Na meditação deixamos
os fogos da mácula
pelo frescor do
samadhi claro.
E isto é como a alegria
de cair na água fresca e clara
depois de se queimar no calor do sol.
— do Grande Tratado sobre a
Perfeição da Sabedoria
(Hsing Yün Ta-shi. Only a great rain:
a guide to Chinese Buddhist meditation.
Traduzido por
Tom Graham, introdução de John McRae. Somerville: Wisdom, 1999. Pág. 34-39.)